A comunidade LGBTQI+ luta constantemente por direitos em uma sociedade que parece disposta a ignorá-la ou até mesmo a extirpá-la. Em “Paloma”, o cineasta Marcelo Gomes conta a história de uma mulher trans que precisa enfrentar o mundo à sua volta para que ela tenha a simples permissão de se casar na igreja. Paloma, interpretada por uma Kika Sena que transborda sensibilidade em cada olhar, quer apenas usar véu e grinalda enquanto entra na igreja para ter seu casamento abençoado pelo padre e, consequentemente, por Deus. O problema é que, pelas leis da fé católica, a união entre pessoas do mesmo sexo é proibida.

A jornada da protagonista se passa no interior de Pernambuco, um local isolado do resto da civilização. Cenário, portanto, ideal para Paloma, já que ela mesma se vê sozinha em seu próprio universo. Por causa disso, não é de se estranhar que Gomes a filme constantemente em planos fechados e com a profundidade de campo limitado pelo desfoque de suas lentes. As paisagens semiáridas e com focos de queimadas também expõem o psicológico da personagem, principalmente quando ela é mostrada solitária e andando sem rumo. Nesses momentos, a câmera não está mais próxima; ela se afasta em planos gerais que fazem de Paloma um ser insignificante perante tanta vastidão de ódio.
Essas são escolhas narrativas impactantes porque fazem com que o espectador note que tal ódio não está “apenas” nas demonstrações físicas das pessoas (que são muitas), mas também na alma de toda uma comunidade. O ser iluminado é Paloma, já que é a única a ter sensibilidade e a ser capaz de sentir amor. Então, o roteiro escrito pelo próprio Gomes, junto com Armando Praça, faz com que essa luz transmitida por ela trace os caminhos da escuridão e tente iluminá-los. Não é uma tarefa fácil, principalmente quando toda a cidade se torna conhecida por ter a primeira travesti (termo usado no filme) a querer se casar na igreja.

Por conseguinte, o filme se mostra um tanto quanto pessimista em algumas passagens, no entanto, possui um desfecho que traz um horizonte cheio de possibilidades, para o bem ou para o mal. Isso não só para Paloma, mas para toda a comunidade LGBTQI+ ali representada. Será ela que precisará impor suas vontades e fazer com que, cada vez mais, suas demandas sejam atendidas. Do contrário, aquela escuridão tomará conta de tudo, o que seria uma tragédia para a humanidade.
Este filme foi visto durante a 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

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