“Com Amor, Van Gogh”, animação dirigida pelo casal Dorota Kobiela e Hugh Welchman, tornou-se uma das maiores histórias do mercado cinematográfico em 2017. Anunciado como o primeiro longa-metragem feito totalmente com pinturas de tinta à óleo, o filme teve uma recepção entusiasmada no Festival de Cinema de Animação de Annecy, na França, e posteriormente foi acolhido pelo público em diversos outros países – inclusive no Brasil, onde levou o Prêmio do Público na Mostra Internacional de São Paulo e acumulou mais de 130 mil espectadores no circuito comercial. Apesar de ser um longa irregular (seu primor estético é infinitamente superior a seu roteiro esquemático), a sua notoriedade e sucesso nas bilheterias ainda lhe garantiram uma indicação ao Oscar de Melhor Filme de Animação, o qual perdeu para “Viva: A Vida É Uma Festa”, da Pixar.
Ainda assim, é inegável que, de uma maneira ou de outra, o filme deixou sua marca, e essa é a única explicação para o lançamento de “Com Amor, Van Gogh – O Sonho Impossível” nos cinemas brasileiros. Um documentário de exatos 60 minutos de duração, o longa, dirigido por Miki Wecel, tem como objetivo mostrar os bastidores da produção e de como foi possível levar para as telas algo que nunca havia sido feito antes – pelo menos não nessa magnitude. Por um lado, não deixa de ser interessante acompanhar o processo de construção de “Com Amor, Van Gogh”, desde sua concepção ainda como curta-metragem até a sua première mundial em Annecy. Por outro, a objetividade com que esse percurso é explorado, sem abrir muito espaço para algum tipo de reflexão mais profunda, faz de “O Sonho Impossível” pouco mais que um making of que parece ter sido lançado nos cinemas apenas para capitalizar em cima do sucesso da obra original.
Em alguns momentos, o filme toca em questões com bastante potencial, como a relativa inexperiência de grande parte da equipe artística com o cinema de animação (consequência da existência de poucos pintores que também trabalham como animadores) ou com a burocracia inerente às políticas de financiamento da indústria cinematográfica (motivo pelo qual Welchman foi alçado à co-direção – enquanto ele, produtor experiente, tratava das questões mais pragmáticas, Kobiela, idealizadora do projeto, era responsável pela supervisão artística da obra). Além disso, uma anedota sobre as vezes em que a diretora foi tentar financiamento junto à Comissão de Cinema da Polônia expõe não só a dificuldade que diretores estreantes enfrentam para conseguir capital para seus projetos, mas também como essa situação é ainda mais complicada para as mulheres, cuja competência é posta em dúvida mais frequentemente.
Entretanto, no geral, “O Sonho Impossível” passa de forma bastante superficial por essas discussões, como se fossem menos uma forma de pôr a produção de “Com Amor, Van Gogh” dentro de um contexto maior das estruturas da indústria cinematográfica, e mais como meros pontos que o filme precisa citar em meio à trajetória de sucesso do projeto (o trecho envolvendo a Comissão de Cinema da Polônia e a forma rápida e conciliatória com que é resolvido mostra bem as intenções chapa-branca do documentário). No final das contas, “O Sonho Impossível” é mais atraente para os fãs do filme original, cujo interesse principal é ver os bastidores do longa de Kobiela e Welchman, porém, para quem deseja algo além do que poderia ser encontrado em um extra de DVD, “O Sonho Impossível” não vale o ingresso.
Imagens e vídeo: Divulgação/Elite Filmes
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