Quando a estética supera o roteiro
Existem alguns filmes, não muitos, que são ótimos, mas raramente chegam aos cinemas nacionais, vão logo para outras plataformas, e quando chegam às telonas, passam tão rápido que quando pensamos em assistir, já não estão mais em cartaz. Esse, infelizmente, talvez seja o caso da ficção científica japonesa “Confidencial – Mente Assassina” (Himitsu – The Top Secret).
O longa, baseado no mangá “Himitsu Top Secret”, escrito e ilustrado por Reiko Shimizu, que também já virou anime, se passa no final do século 21, onde uma descoberta começa a mudar a forma de investigação criminal no Japão. Através de scanners de ressonância magnética, um grupo de cientistas, aliados a investigadores, podem escanear a memória de pessoas com até 5 anos mesmo estando mortas. Com isso, os pesquisadores do 9º Laboratório Forense do Instituto Nacional de Investigação das Ciências da Polícia, comandando pelo misterioso Tsuyoshi Maki (Toma Ikuta), convoca o investigador criminal Ikko Aoki (Masaki Okada) para entrar na cabeça um homem que matou toda sua família e até aquele momento um dos corpos nunca foi encontrado. A partir daí a trama se torna maior do que o esperado e eles precisam correr contra o tempo para desvendar todo o mistério.
O diretor, Keishi Ohtomo, junto com outros três roteiristas, Izumi Takahashi, Lee Sork Jun e Kim Sun Mee, desenvolveram uma adaptação live-action interessante, dentro da proposta original, embora seja menos sangrenta. O roteiro dialoga muito com a linha tênue entre a ética e a ciência, até onde podemos ir em suas execuções, e tem um drama intenso, que oscila do 8 ao 80 com uma extrema facilidade. Ainda que tenha boas reviravoltas, ao longo de suas 2h28m, ele também se torna o pecado do filme, sendo demasiadamente repetitivo em algumas questões.
O roteiro um o fator que poderia facilmente destruir o interesse pelo filme, mas Ohtomo sabia exatamente o que queria e como queria para se contar a história, extraindo de seus atores uma boa atuação e marcando enquadramentos tão perfeitos geometricamente, que são de cair o queixo. Os ângulos captados falam sozinhos e se fosse um filme mudo, eles seriam mais do que suficientes para narrar os acontecimentos e nos deliciar com a linguagem ali inserida.
Sem a Direção de Fotografia de Ishizaka Takuro, o que foi citado acima, talvez não pudesse ser possível ou, se executado, não teria tantas características únicas. Com uma textura sóbria, sem exageros, e o clássico estilo de ficção científica, com a aparência do início dos anos 2000, ele transpõe o futuro de uma maneira à enxergar o passado com suas questões comportamentais que são atemporais.
Para complementar, o Design de Produção (Direção de Arte) é apresentado impecavelmente, mantendo o estilo da produção. O que poderia soar “morto” visualmente, por tamanha organização calculada, tem o poder de encantar. O figurino com seus cortes e composições sóbrias, as caracterizações feitas para configurar a essência de cada um dos personagens, e a cenografia com seus objetos cênicos.
Ainda que o número de mulheres atuando seja pequeno e o filme possua boas interpretações masculinas, como os protagonistas e a participação de Lily Franky, Oda Lisa se destaca como a fria e estranha Kinuko Tsuyuguchi, enquanto Kuriyama Chiaki mantém uma boa performance como a médica forense Yukio Miyoshi.
“Confidencial – Mente Assassina”, possui problemas estruturais repetitivos, mas ele é um dos melhores filmes de ação/ficção científica dos últimos anos, superando até alguns famosos do mercado hollywoodiano. Forte e envolvente, esse é o tipo de filme que serve de estudo estético e que queremos ter em casa.
*O filme ainda não possui data de lançamento, nem trailer legendado em português.
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