O longa “Depois do Universo” foi feito no Brasil, mas poderia muito bem ter saído de Hollywood, já que sua narrativa é típica de filmes como “A Culpa é das Estrelas” e “A Cinco Passos de Você”. O diretor Diego Freitas usa do colorido da fotografia e dos figurinos, das músicas românticas e do conto de fadas para construir a história de Nina (a cantora Giulia Be que se esforça para atuar com o mínimo de dignidade), uma pianista com Lupus que precisa de um transplante de rim. A garota então conhece o médico bonitão Gabriel, interpretado por Henrique Zaga (em uma atuação abaixo de sua companheira de cena, o que é preocupante, já que ela não é uma atriz profissional como ele). Os dois se apaixonam, mas terão que superar alguns obstáculos, como era de se esperar.
Esses obstáculos, assim como quase todo o restante das situações criadas pelo roteiro, são tão clichês que chegam a dar vergonha, como a doença que impede Nina de realizar o sonho de tocar na orquestra sinfônica de São Paulo, e o problema moral de um relacionamento amoroso entre médico e paciente. Há ainda sequências de cenas exaustivamente usadas pelo cinema no passado: o amor feito a céu aberto e durante um temporal e o todas as que envolvem o amigo gay que serve apenas de alívio cômico. Além disso, o texto usa de algumas coincidências inconcebíveis, como o fato do casal se ver pela primeira vez ao acaso em uma estação de trem para depois ser Gabriel o médico a atender Nina quando ela precisa de hemodiálise.
O jogo de cores do figurino, por sua vez, soa óbvio demais. Enquanto ele usa roupas amarelas e laranjas, ou seja, está sempre alegre como um lindo dia ensolarado, ela veste muito preto e cinza, que externam sua tristeza com uma vida destruída pela doença. Claro que é difícil fugir do padrão neste campo, mas seria interessante se a paleta fosse melhor diversificada para que o espectador conhecesse mais das facetas dos personagens. Em relação ao médico, na verdade, isso só seria possível se ele possuísse algum defeito, e não ser o deus perfeito da beleza, da doçura e da bondade como ele é retratado. O aparato narrativo também peca em algumas rimas visuais um tanto quanto batidas. Um exemplo fácil de lembrar é a cena em que dizem a Nina que as portas do mundo estão se abrindo para ela. Neste momento, um corte rápido mostra Gabriel escancarando a porta de uma igreja abandonada onde ele achará um piano.
Todos esses problemas tiram de “Depois do Universo” a oportunidade de chegar próximo a ótimos romances como “Diário de uma Paixão” e “500 Dias com Ela”, no entanto, é preciso reconhecer a nobre intenção dos realizadores em trazer algo leve e romântico para pessoas que vivem em um mundo real tão cheio de tristeza e maldade. Com certeza, a obra irá acalentar o coração daqueles que buscam o amor e dará ainda mais vida aos que já o possuem. O amor, neste caso, é o que mais importa aos casais, que deixarão de lado os aspectos técnicos cinematográficos citados neste texto. E eles não estão errados em fazer isso!
E por falar em amor, o meu eu dedico à linda Gabrielli Leal.
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