Bom velhinho?! Não exatamente.
Na safra de remakes feitos por Hollywood, a comédia “Going in Style”, de 1979, ganhou uma nova versão contemporânea, com um elenco de peso. Se o número de pessoas com mais de 65 anos vem aumentando no mundo, enquanto o de natalidade vem diminuindo, é mais do que normal que tenhamos a criação ou a reprodução de conteúdos para esse público. Porém, “Despedida Em Grande Estilo” é uma comédia dramática para qualquer pessoa, de qualquer idade.
Joe (Michael Caine), Willie (Morgan Freeman) e Albert (Alan Arkin) são velhos conhecidos, que trabalharam juntos na mesma empresa por anos e hoje são aposentados e vizinhos de rua. Joe mora com a filha e sua neta, Brooklyn (Joey King), enquanto Willie e Albert dividem a moradia. Durante uma visita ao banco, para entender o motivo de sua hipoteca ter triplicado e correr o risco de perder a própria casa, Joe presencia um assalto milionário que vira notícia e não sai de sua cabeça. Após isso, a empresa que trabalharam juntos cancela suas pensões deixando os três em uma péssima situação financeira. Depois de muito pensar Joe decide roubar um banco e Willie e Albert relutam um pouco com a ideia, mas acabam topando o ousado plano, cada um com sua própria motivação.
O novo roteiro, escrito por Theodore Melfi, baseado na história original de Edward Cannon, ganhou um ar moderno e cheio de referências da cultura pop. Ao contrário de seu antecessor, Melfi preocupou-se em criar uma densidade estrutural em seus protagonistas. Ao invés de decidirem realizar o assalto apenas por quererem sentir um”‘última” adrenalina no corpo, eles passam a ter motivos pessoais para tal ato. Há também uma estrutura familiar entre os senhores, que regem seus comportamentos e nos aproxima como espectador. Com um humor rabugento, o texto tem uma boa proposta e nos remete a filmes como “Antes de Partir” (2008) e “Última Viagem a Vegas” (2013).
Zach Braff, o diretor, pela primeira vez está em uma produção de grande escala que não assina o roteiro e nem está no elenco. Definitivamente foi uma de suas melhores decisões, uma vez que sua participação em ambos não seria necessária. Focado em narrar visualmente a trajetória dos senhores, ele não deve ter tido dificuldade em trabalhar com atores que visivelmente estão confortáveis em seus papéis. Seu tratamento nos remete a boas comédias dos anos 90, com uma nuance suave e sem muitos rodeios técnicos. Porém, embora consiga manter um bom ritmo em toda a produção, sua direção – junto ao roteiro – se defasa na preparação do roubo. Apesar de termos, posteriormente, os flashbacks explicando o plano, faltou um pouco mais de interação sobre essa preparação. O acréscimo de outras cenas que poderiam engrandecer o processo, afinal são senhores com mais de 70 anos, e a frase “Foi divertido planejar esse assalto com vocês”, oníricamente sairia do filme para agregar o espectador a trama.
Falando de ritmo e desenvolvimento não podemos deixar de parabenizar a montagem dinâmica, embora às vezes clichê em suas transições, de Myron I. Kerstein, e a fotografia limpa e bem executada, de Rodney Charters. Se tratando de categorias técnicas, inevitavelmente não ficaria de fora a trilha sonora de Rob Simonsen. Depois do elenco, sem dúvida alguma, suas composições são a melhor coisa do filme. Existe uma dinâmica muito interessante construída nas músicas que não só nos remete a outras produções conhecidas, como também nos deixa vivenciar pela audição os sentimentos e sensações de seus personagens. Num mix de aventura e drama, Rob soube exatamente o que era necessário para que encontrasse o ponto certo entre o “drama da idade” e “comicidade aventureira”.
Dualidade executada com maestria pelo seu elenco principal. Michael Caine segue uma caricatura de um bom velhinho, que quer cuidar de sua família e ver todos bem ao seu redor. Sua genuína construção de pai, avô e amigo é singela, mas com extrema presença. Alan Arkin por sua vez é o bom e velho resmungão, que espera a morte chegar e nunca se sente satisfeito, mas possui algumas das melhores deixas cômicas e as faz com uma tremenda facilidade. Já Morgan Freeman, que está virando um rosto conhecido em filmes de despedidas (como os que foram citados aqui anteriormente), desejamos que ele não se despeça tão cedo. Aos 80 anos ele continua nos surpreendendo, positivamente, nos mais diversos papéis e nessa produção, não foi diferente. O “trio parada dura” que praticamente carrega o filme nas costas é estonteante em cena, até mesmo nas mais bobas e clichês.
Completando o elenco, temos Joey King e Peter Serafinowicz, que faz o pai de Joey no filme e que não conseguiram dizer exatamente para o que vieram. Suas participações são pequenas e não conseguem dar a representatividade necessária. O contrário acontece com a atriz Ann-Margret, como a divertida e “assanhada” Annie, e o ator Christopher Lloyd, como Milton. Ambos conseguem em suas participações, não só arrancar sorrisos, como desenvolver-se bem dentro da trama. São capazes de situar de suas devidas importâncias, feito sempre com muito bom humor, competência e didática.
“Despedida Em Grande Estilo” tem um clima leve, familiar e é relativamente bem construído. Se tratando de aposentadoria, é até um pouco irônico que ele estreie no brasil onde deveremos nos aposentar com 65 anos, enquanto por lá seria aos 50. Ironias a parte, o filme é um enlatado de Hollywood que gostamos de abrir e consumir, com um elenco de primeira e com uma construção narrativa gostosa para se passar o tempo. Vale ser visto.
https://www.youtube.com/watch?v=j-ajabXxbXk
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