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Crítica

Crítica: Dirty Weekend

Frequentemente nos escondemos sob a máscara do puritanismo, dos bons costumes, dos conceitos sobre a família e sobre religião, e mantemos bem no fundo de nosso subconsciente a verdadeira face do ser humano, o ser animal, que por ter sido moldado pela evolução, se comporta civilizadamente, mas que, com um leve empurrão, deixa esse animal vir à tona.

O subestimado Neil LaBute persegue em seus filmes o ser humano que se esconde, que vive a vida imposta por uma sociedade civilizada, mas que possui em seu cerne os impulsos selvagens, as vontades eróticas de “sair dos trilhos”, nem que seja por um único fim de semana. Seu estilo de filmar não possui floreios, sua câmera aponta diretamente ao objeto de estudo sempre em planos abertos, onde se vê claramente os ambientes. Por vezes a imagem é chapada, quase transformando os seres humanos em partes da decoração, como participantes de um ecossistema mais complexo, o que o força a sair do “armário” que os esconde.

Em “Dirty Weekend” ele explora o mesmo tema, o externando em Natalie (Alice Eve) e Les (Matthew Broderick), que são seres presos em suas sufocantes vidas. Ela possui uma namorada que literalmente a domina, a coleira em seu pescoço está lá para lembrá-la dessa dominação, e ele, com sua rotina de vendedor e pai de família, não consegue esquecer uma noite de sexo com uma mulher que conheceu em um bar gay em Albuquerque. Presos por falta de voos em um hotel na mesma Albuquerque, Natalie propõe a Les que procure o bar gay e tenta encontrar aquela mulher que não sai de sua cabeça.

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Elementos visuais representam a prisão desses personagens, como a coleira no pescoço dela e uma tipoia que imobiliza um dos braços dele. O roteiro expõe todos os temas de forma clara, deixando para trás a complexidade narrativa que filmes desse gênero poderiam sustentar. Os diálogos fazem parte do jogo que os personagens participam. Cada linha dita por um é praticamente completada por outro de forma sucinta. LaBute faz um recorte de realidade trazendo situações pouco comuns em vidas cotidianas e faz uma reflexão bem sucedida das relações humanas.

A escolha de Matthew Broderick para o papel parece evidente, já que o ator consegue muito bem representar a figura confusa e desajustada, que tenta esconder essas características através de um comportamento polido. Até as suas expressões parecem extremamente pensadas, mesmo quando a raiva o domina. Alice Eve transparece retração e até medo com sua Natalie. É interessante como esse medo faz com que ela pareça se esconder das outras pessoas. Seja em um quarto ou em um sofá nos fundos de um saguão de hotel, ela sempre evita ser vista. O figurino ajuda na construção dos dois personagens. Ele com suas roupas alinhadas, fora de moda e com cores apagadas e ela vestida toda de preto, com a gola alta, quase sem mostrar a pele, mesmo com o calor que parece fazer em Albuquerque. Esses figurinos só são alterados em um único elemento já no final do filme, que não direi qual é aqui para evitar spoilers.

LaBute constrói um estudo de personagens e, assim como em seus outros filmes, joga-os na tela como reflexos de uma sociedade doente. É uma pena a pouca repercussão que seus filmes causam, pois precisamos de analises menos megalomaníacas do ser humano.

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Formou-se como cinéfilo garimpando pérolas nas saudosas videolocadoras. Atualmente, a videolocadora faz parte de seu quarto abarrotado de Blu-rays e Dvds. Talvez, um dia ele consiga ver sua própria cama.

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