Os que se parecem, não são iguais
Em “Disco boy – Choque entre Mundos”, após uma migração que em alguns dias se torna problemática, Aleksei, um bielorrusso, é cooptado para a famosa Legião Estrangeira Francesa e isso o coloca no caminho de um líder revolucionário, Jomo, que está tentando impedir que sua aldeia e seu povo sejam varridos pelas ações das petrolíferas.
O andarilho se torna soldado e o aldeão se torna revolucionário, porém há uma diferença fundamental!
Um é europeu, mesmo que esse status seja uma promessa após cinco anos de serviços, e o outro é um africano, nascido e criado no Delta do Rio Níger, tentando se proteger.
A partir daí há uma tentativa do diretor em fazer um paralelo entre os dois que hora se juntam e hora se perdem.
Porém, em algum momento, a narrativa do europeu se sobressai e todas as possibilidades de se conhecer mais sobre Jomo, o revolucionário, se afastam, inclusive no desfecho do confronto entre eles.
Ou seja, se opta pela obviedade do exótico africano e da maior possibilidade do europeu, mesmo que esse não tenha uma vida minimamente interessante e recebe de bandeja a possibilidade de se tornar um cidadão francês.
Vida de balada, bebendo Bordeaux, ao lado de mulheres igualmente querendo se divertir, enquanto a Jomo e aos seus, resta o registro do que me parece o bom selvagem.
Até o motivo do confronto entre os dois, traz um motivo inocente, o que não parece ser o que um local da região, agiria nessa situação.
Resolvida essa situação, seguimos Alex (o novo homem), convivendo com as consequências desse confronto, que pelo menos mostra uma humanidade até então, insuspeita no protagonista.
E a essa altura, o diretor quer nos fazer acreditar em uma simbiose, com assimilação ou apropriação de gestos e sentimentos pela irmã de Jomo, que tem uma característica tão marcante quanto seu irmão: um olho mais claro que o outro.
Mas não passa do batido recurso do fascínio pelo “exótico” pelo que se destaca, o fascínio pelos menos favorecidos, mesmo que não se mostre nenhuma solução, só a constatação.
E na conclusão, por essa estranha associação, que é resolvida mostrando o privilégio de sempre se tratar da relação entre um europeu e um africano, um se realiza nos sonhos do outro.
Ou seja, o que no começo parecia uma divisão de valores e entrelaçar de destinos, transforma-se em determinismo e uma perigosa apropriação de propósito e resultado.
Considerando as possibilidades, no final do filme, descobrimos o lado onde realmente estava o diretor e que faltou aprofundamento das realidades e igualdade de valores.
Há um interessante valor de produção e uma tentativa de surpreender esteticamente, porém faltou o questionamento sobre o estado das coisas e igualar os lados das histórias.
Espero que isso ajude!
Por Roberto Rezende
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