Direção: Maurício Nahas
Roteiro: Di Moretti
Gênero: Documentário
Origem: Brasil
Duração: 79 minutos
Sinopse: O filme mostra a relação entre os artesãos e moradores do Vale do Jequitinhonha e a matéria-prima que utilizam – o barro -, substância que vem da terra, do pó, de onde vieram os homens e que dá a chance de transformar miséria em arte.
Do Pó da Terra é um documentário contemplativo e revelador sobre uma profissão e matéria-prima que estão sendo esquecidos pela sociedade e governo brasileiro – artesão e o barro. A relação entre o homem e essa matéria geram obras de arte maravilhosas, muito ricas em cultura e beleza. Muito mais que noivas, noivos, e cabeças, essas peças representam a habilidade e imaginação fértil de um povo que sofre até hoje preconceito por parte dos nascidos em cidade grande, com celular, computador e pratos de vidro. Maurício Nahas compreender muito bem esse significado, e por suas lentes competentes somos transportados para a realidade desse povo.
Logo no inicio, podemos notar certa tendência do diretor em deixar a câmera fazendo movimentos pequenos e leves para acompanhar todo o ambiente. Seus olhos são aguçados para registrar momentos como naquela quando a terra sobe da estrada formando belas nuvens de poeira. Também acerta em momentos nos quais deixa a câmera gravando um galho de árvore, uma corrente de água, ou coisas parecidas, mostrando assim uma ligação entre todos os entrevistados e suas ligações com a natureza rica, e por hora subestimada pela selva de concreto das grandes metrópoles.
Os entrevistados, por sua vez, estão bem à vontade em frente às câmeras, agindo muito naturalmente e ainda conseguindo, por meio de palavras ou gestos, expressar seus sentimentos de maneira clara e objetiva, mas nunca ficando caricato ou óbvio. Isso pode ser constatado principalmente com Maria Lira Marques Borges que exala uma presença confiante quando se trata sobre suas artes, mas frágil ao falar das dificuldades do dia a dia, sendo quase impossível não se emocionar com suas falas.
Igualmente emocionantes são as tomadas nas quais os entrevistados aparecem mexendo no barro e também com a cara tomada por essa matéria-prima. Uma ligação que poderia soar óbvia e intrusiva, mas depois de tanto o longa dialogar com o espectador, torna-se um clímax perfeito para encerrar com a mensagem que, apesar das dificuldades de vida e moradia, suas ligações com a natureza e a arte de moldar o barro os movem em direção a uma felicidade na qual nós (da grande cidade) não estamos acostumados a ter, uma felicidade plena e etérea.
Contudo, Do Pó da Terra esbarra em uma escolha infeliz. Por tentar contemplar história de vida de várias pessoas, acaba ficando confuso e aleatório em suas transições de cenas. Obviamente, muito por conta de uma montagem que não foi eficiente em ligar bem as sequências. Além disso, também temos pinceladas de alguns temas como machismo e a indústria cultural, porém, como não era esse o foco do documentário, eles acabaram sendo abandonados durante o filme.
Por fim, Do Pó da Terra é um documentário sensível e realista sobre um vale pobre financeiramente, mas muito rico em humildade e cultura, na qual estamos destinados a ter uma ruptura completa com o descontrole excessivo do crescimento das grandes cidades, junto com um total esquecimento da classe trabalhadora mais pobre.
Por Will Bongiolo
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.