Muitos não conhecem os pintores Maria Helena Vieira da Silva e Árpád Szenes. O casal de artistas viveu e teve seu ápice criativo entre as cidades de Paris, Lisboa e Rio de Janeiro nas décadas de 30 e 50. São realmente desconhecidos dos leigos, mas bem respeitados entre os especialistas em artes plásticas. O que vos escreve está entre os que não faziam ideia da existência de Szenes e Vieira da Silva, e que teve que recorrer ao cinema para conseguir um pouco mais de cultura de alto nível. Isso aconteceu após os créditos finais de “Escrita Íntima”, (que chegou atrasado no Brasil, já que é de 2017), documentário do cineasta português João Mario Grilo (“A Vossa Terra”, 2016).
O filme de Mario Grilo conta a história de amor entre a portuguesa-francesa Vieira da Silva e o Húngaro-francês Szenes através da leitura em voz over de cartas que os dois trocavam quando estavam longe um do outro. As obras de ambos também fazem parte da narrativa, e são detalhadamente mostradas durante a leitura dos textos de amor. É interessante como esse artificio não se torna cansativo, talvez porque o conteúdo das cartas é extremamente romântico e interessante. Ainda há sons ambientes que fazem com que o espectador quase vivencie as situações pintadas nas telas e os locais onde as cartas foram escritas.
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Portanto, “Escrita Íntima” consegue ser emocionante sem apelar para o sentimentalismo. O romance entre aquelas duas pessoas é palpável mesmo que elas quase não estejam presentes em tela; apenas suas fotografias e alguns poucos minutos de um outro documentário antigo trazem suas feições e suas vozes. É mesmo nas palavras escritas e nas pinturas que é possível conhecê-las, e como o texto e os quadros são inanimados, a direção de câmera é contida e lenta, com o grande uso de panorâmicas que transcorrem as cartas e as obras. A câmera se torna os olhos encantados dos espectadores, que lentamente conhecem uma linda história de amor e de vida.
O estilo mais comum de documentário, portanto, é deixado um pouco de lado – até há algumas habituais entrevistas com pessoas que conheceram os dois personagens principais, mas são em menor número em comparação aos documentários comerciais, digamos assim. O que se tem aqui é uma obra poética, que não se apoia em maneirismos ou em lugares comuns. Afinal de contas, Szenes e Vieira da Silva eram artistas à moda antiga, e não mereciam técnicas de montagem e direção modernas. Suas vidas seguiam outro ritmo, tinham outro sentido.
O único “defeito” de “Escrita Intima” é que não é um filme para todos os públicos por causa de seu ritmo cadenciado e de sua linguagem pouco popular. Ele provavelmente estará disponível em poucos cinemas de arte, o que é uma pena, já que muitas pessoas não conhecerão uma bonita história de amor que foge dos clichês ao se apoiar na sensibilidade humana. Quem sabe o streaming faça com que ele seja visto por mais pessoas e que o Dia dos Namorados futuros sejam inspirados por Maria Helena Vieira da Silva e Árpád Szenes.
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