Wes Anderson é um dos mais singulares e talentosos cineastas da atualidade, sempre gerando curiosidade em seu público quanto aos projetos que se envolve. Independente de qual seja, sua marca é sempre deixada enquanto realizador, tornando seu estilo muito único, difícil de ser copiado, recheando suas criações de excentricidade nos mais diversos aspectos. “Ilha dos Cachorros” é seu mais recente filme, que posta numa animação ambientada no Japão tendo cachorros como centro da narrativa. A medida em que começamos a assistir, vemos que é, de fato, uma obra peculiar e bem surreal até, mas nada que Anderson já não tenha feito com maestria.
O primeiro a se dizer é que todas as características do diretor estão presentes aqui, sejam os planos precisamente simétricos ou os movimentos de câmera verticais e horizontais. Realismo, como em sua filmografia, não é a prioridade em “Ilha dos Cachorros”, e é quebrado por esses elementos, bem também como o das cores, que assumem logo o tom fantasioso do que se passa na projeção. Algo que acaba por estar presente também na direção de arte, que cria um mundo ficcional dentro do Japão para que a narrativa vista possa acontecer. É, portanto, interessante que haja o contraste entre um real país e um real povo com conceitos ficcionais tão fortes. A iconografia e signos que ligamos diretamente a cultura japonesa são numerosos, entretanto se mantendo dentro de um contexto de fábula. Os mais óbvios elementos que reforçam essa ideia são, mais explicitamente, cachorros falando e toda cena do prólogo que calca e permite entendermos o restante dos acontecimentos do roteiro. Nesse sentido, não espere uma animação da Disney ou DreamWorks, mas é inegável que o longa é tão intrigante quanto.
Outro ponto que há de se tocar é a trilha sonora e o som como um todo. A música é composta por forte atmosfera criada por percussões e sonoridades que remetem ao Oriente, porém que estabelecem novidades, originalidade em si. Afinal, não é só de referências na realidade que “Ilha dos Cachorros” se constrói, muito pelo contrário. Os diálogos humanos que se mostram predominantemente em japonês e, muitas vezes sem contar com tradução para a audiência, mostram respeito para com o idioma e geram o distanciamento necessário do universo deles para com o dos animais. É curioso notar que, ainda assim, é possível inferir aquilo que se passa na maioria das cenas sem tradução. Inteligente decisão que respeita a inteligência do espectador, mas que por vezes falha dada a presença de narração em off que existe ocasionalmente aqui.
Assim, “Ilha dos Cachorros” é um filme que exala originalidade, ainda que não seja a primeira experiência de Wes Anderson com animações. O que falta é melhor concepção de alguns personagens, sobretudo humanos. Natural que o foco seja nos cachorros, mas a relação que eles estabelecem com os humanos era fundamental para que o filme se estruturasse com mais regularidade. Ainda assim, é mais um ótimo filme do diretor que, ao brincar com simetrias dignas de Stanley Kubrick, constituí tão forte identidade em termos de linguagem audiovisual.
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