Quando “Jogos Mortais” estreou nos cinemas, em 2004, ele foi um sucesso inesperado, rendendo mais de 100 milhões de dólares e se tornando um dos mais jovens “clássicos do terror”. Como nas outras grandes produções do gênero que tiveram uma boa bilheteria, o filme estava a fadado a ter continuações, e foi o que aconteceu: novos capítulos da franquia passaram a ser lançados de ano em ano. Naturalmente, seu nível de qualidade, assim como o interesse do público, foi se perdendo com o passar do tempo, levando a “saga” ao seu fim com o péssimo “Jogos Mortais: O Capítulo Final” em 2010. Porém, em 2017, após o retorno aos cinemas de nomes de peso como “A Bruxa de Blair” e “O Chamado”, foi anunciado “Jogos Mortais: Jigsaw”, o oitavo registro da série.
A trama se passa 10 anos após os assassinatos e a morte do original “Assassino Jigsaw” (Tobin Bell), quando o detetive Halloran (Callum Keith Rennie) investiga uma série de mortes que parecem ter sido ocasionadas pelo falecido serial killer, com a assistência do especialista forense Logan (Matt Passmore), que, por sua vez, não confia no detetive. Ao mesmo tempo, o enredo desenvolve a história de cinco pessoas que lutam por sua sobrevivência em um dos jogos mortais, que se passa em uma fazenda abandonada.
Inicialmente, o aspecto que mais chama atenção do longa é a sua identidade visual. Enquanto os filmes anteriores usavam uma fotografia mais “suja”, com o uso de tons escuros e frios, “Jogos Mortais: Jigsaw” prioriza a clareza, com certas cenas privilegiando cores vibrantes, em uma tentativa de modernizar a série.
Essa mudança também é perceptível na direção dos irmãos Spierig, e na montagem, que ficou novamente nas mãos de Kevin Greutert (montador dos cinco primeiros “Jogos Mortais”). Ao contrário do seu estilo hiperativo e cheio de efeitos – como slow motion, movimento acelerado e jump cuts –, Greutert mantém a edição bem básica, sendo a única semelhança com o resto da franquia o uso de flashbacks. De maneira similar, os diretores favorecem planos estáticos, que deixam a ação mais compreensível, porém acabam tirando um pouco da tensão.
Outro ponto de destaque são os efeitos especiais. Na maior parte do tempo, funcionam por serem feitos de forma prática, passando realismo, mas, em contraponto, algumas cenas realizadas com computação gráfica parecem ter saído diretamente de um videogame.
Porém, onde “Jogos Mortais: Jigsaw” acerta em construir um visual novo, ele também erra ao fazer um enredo previsível e estúpido. O roteiro já apresenta diversos buracos – como em um momento em que o assassino deixa uma mensagem gravada comentando um fato que ocorreu após a gravação da mesma – e com cada reviravolta que acontece, a trama faz menos sentido, tanto em relação à história dos outros filmes quando a sua própria.
A falta de sutileza também prejudica o script, com a maioria dos personagens tendo suas histórias contadas por Jigsaw ao invés de ter um desenvolvimento real, e com o desfecho sendo um grande monólogo que tenta explicar tudo o que aconteceu no enredo. E, além disso, o filme tem problemas com os seus tons conflitantes, usando algumas frases de efeito cômico que ficam deslocadas em meio às cenas de perigo e investigação.
Em questão de atuações, esse conflito é ainda mais presente. Enquanto a maior parte do elenco é decente, Paul Braunstein, que interpreta Ryan, uma das vítimas, parece estar atuando em uma comédia enquanto cai em armadilhas mortais. Também é duvidosa a escolha de trazer de volta Tobin Bell como John Kramer, já que o mesmo está velho demais para reprisar um papel que morreu em “Jogos Mortais 3”.
O roteiro fraco, somado à identidade visual moderna e ao redesign de elementos clássicos da franquia – o mais notável é a cara nova de “Billy”, a marionete – dá à produção uma sensação maior de fanfilm do que realmente de uma continuação oficial. Porém, enquanto tem muito pouco para se aproveitar em “Jogos Mortais: Jigsaw” como um filme assustador ou sério, ele funciona com aquele charme do “tão ruim que é bom”.
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