Um dos maiores sucessos de bilheteria de 2008 foi “Mamma Mia!”, um musical adaptado de uma peça de teatro no qual toda a trilha sonora é composta por músicas do grupo sueco de Europop ABBA. Apesar de uma recepção morna pela crítica, o filme teve um grande apoio do público, o que se deve ao seu repertório de canções populares, elenco carismático e a sua trama típica de comédia romântica, com um final satisfatório: cada personagem tem a sua conclusão, casais novos são formados e os já estabelecidos continuam juntos, e todos cantam em união até os créditos rolarem. O mundo do cinema, porém, é conhecido por suas sequências desnecessárias e, inevitavelmente, em 2018 temos o lançamento de “Mamma Mia! Lá Vamos Nós De Novo”, que surpreende por ser uma continuação digna de seu antecessor.
A trama se passa dez anos após o primeiro longa e segue novamente a história de Sophie Sheridan (Amanda Seyfried), que prepara a grande inauguração do hotel de sua mãe Donna (Meryl Streep), com a ajuda de um de seus três pais, Sam (Pierce Brosnan). Ao mesmo tempo, a história de uma jovem Donna (Lily James) é contada através de flashbacks que detalham como ela conheceu seus três amantes, Harry (Hugh Skinner), Bill (Josh Dylan) e Sam (Jeremy Irvine), e começou a morar na ilha grega onde se passam os dois filmes.
O que poderia ser apenas uma versão piorada da produção original ganha uma vida nova graças a ágil direção de Ol Parker. O modo como captura a grandiosidade de seus números musicais – que contêm belas coreografias – é bem fluído, com destaque para o seu uso de cortes diferenciados envolvendo um jogo de percepção com o espaço e espelhos durante o número musical “One of Us”. Esses raccords criativos são recorrentes no longa, sendo usados para transitar entre os tempos e as locações de maneira bem sútil, como um plano do hotel que se transforma em um cartão postal de outra cena, ou um enquadramento que termina uma sequência tornando-se um quadro na parede da próxima.
Além de dirigir, Parker também é o responsável pelo roteiro que, apesar de consistente, apresenta seus altos e baixos. Enquanto o seu humor bobo, mas divertido, configura nessa primeira categoria, na segunda o maior agravante são as cenas de flashback, que não são muito interessantes porque apenas recontam uma história que já foi detalhada no primeiro filme. Por conta disso, elas acabam parecendo somente uma justificativa para encaixar diversos números musicais entre a trama que se passa no presente. Outro ponto de qualidade duvidosa no script são algumas de suas subtramas desnecessárias e a mania que tem de resolver problemas com uma solução saída do nada – como o uso conveniente de um irmão gêmeo de Bill (Stellan Skarsgard) que nunca foi mencionado antes, e nem será depois, de sua primeira e única cena -.
Esses pontos são agravados pela escolha de um elenco jovem que não consegue competir com a presença de cena dos atores veteranos, tornando as suas cenas bem esquecíveis. A exceção da regra é Lily James, que convence em sua versão mais jovem da personagem de Meryl Streep com uma performance bem enérgica. No tempo presente, quem mais se destaca são Julie Walters e Christine Baranski, que interpretam as Rosie e Tanya – as duas amigas de longa data de Donna – e são responsáveis pela maior parte do humor da produção. É peculiar também que, após as duras críticas em “Mamma Mia!”, o segundo filme continue apresentando números musicais com Pierce Brosnan, que não é um cantor muito bom – números esses que foram bem mais curtos dessa vez -.
“Mamma Mia! Lá Vamos Nós De Novo” pode até ser uma continuação supérflua, mas não é uma ofensa ao filme anterior. Na verdade, é uma experiência cinematográfica do mesmo nível, com um roteiro de comédia romântica um tanto genérico, mas com uma boa técnica e ótimas performances musicais, o que a faz um sequência justa tanto pela história quanto pelo estilo.
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