Depois que Jair Bolsonaro tomou posse como presidente em 2018, a arte audiovisual reagiu através de várias produções que abordam diretamente a politica brasileira. Como exemplo, vale citar “O Processo”, de Maria Ramos, e o indicado ao Oscar “Democracia em Vertigem”, de Petra Costa. Esses dois documentários mostram um país sendo destruído por péssimos politicos como o citado capitão reformado e Michel Temer. Isso sem contar os outros que estavam em volta e participaram de tudo. Já a obra “Memória Sufocada”, de Gabriel Di Giacomo, tem uma função diferente: ele serve para lembrar aos desavisados como surgiu a ideologia deturpada seguida por figuras como Bolsonaro.
Por meio de imagens e vídeos retirados da internet, o documentário é uma espécie de aula de atualização para a geração Z, aquela que vive conectada por meio de seus smartphones, onde consegue toneladas de informações, mas que parece não conhecer a história de seu próprio país. Para falar com esse público e com aquele que se acostumou com a tecnologia moderna, a montagem, do próprio Di Giacomo, intercala imagens de arquivo da época da ditadura militar com vídeos tirados de protestos da extrema direita atual, que vive aos berros pedido intervenção militar e AI5. O interessante, contudo, é que essa montagem é feita para parecer uma pesquisa feita por uma pessoa interessada no assunto e que está navegando na internet. Por isso, há o cursor do mouse na tela, assim como o som de seus cliques e das teclas de um teclado.
A edição sonora é ainda significativa à narrativa em outro quesito: há falas ditas no passado ditador brasileiro que são colocadas na boca de personagens da politica atual, e vice e versa. Isso é importante porque reforça a ideia de que os pensamentos quase não mudaram de 1964 até agora. O que se pensava naquela época se pensa até hoje por uma parte da população que não está de acordo com o regime democrático. Bolsonaro, portanto, era alimentado pelos militares ditadores e aprendeu a venerá-los. Sim, a farda se transformou em uma veste sagrada para ele, principalmente quando ela era vestida por Carlos Brilhante Ustra, o coronel estuprador e torturador. É com ele, inclusive, as passagens mais repugnantes de “Memória Sufocada”. Traz nojo vê-lo mentir descaradamente e de frente para as suas vítimas durantes seus depoimentos na Comissão Nacional da Verdade. Há, contudo, revolta quando os torturados contam as práticas de Ustra.
O coronel é o herói de Bolsonaro e o vilão de um Brasil que ainda luta para exorcizar seus demônios. Di Giacomo, com seu “Memória Sufocada”, consegue trazer à tona as memórias desse mal para que elas nunca se apaguem. É preciso que toda a barbarie esteja fresca na mente de quem tem cargos de poder e na daqueles que votam. Com isso, talvez não se tenha mais no Brasil um governo destruidor como foi o do genocida. Se ainda assim aparecer no futuro um novo candidato a mito de extrema direita, caberá aos mais inteligentes exibirem esse documentário por toda a internet e por muito tempo. Só assim para tentar fazê-los aprender um pouco de história.
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