Nos últimos anos, um dos gêneros que vêm ressurgindo no cinema brasileiro é o terror, tanto em filmes trash, como “Condado Macabro” (2015), quanto em produções maiores, como “O Rastro” (2017). Se encaixando um pouco em ambas essas categorias, surge “Motorrad: A Trilha da Morte”, um thriller que parece ser uma mistura entre a franquia “Mad Max” e os longas slasher e exploitation dos anos 70 e 80, fusão que funciona parcialmente.
A história de “Motorrad” segue os irmãos Hugo (Guilherme Prates) e Ricardo (Emílio Dantas), que junto com alguns amigos saem para andar de moto por uma região deserta. Após entrar em uma área proibida, o grupo encontra Paula (Carla Salle), uma motociclista que os leva para conhecer um lugar novo. Porém, logo após chegar ao seu destino, eles se vêem perseguidos por uma gangue de motoqueiros assassinos misteriosos.
Logo no início, são perceptíveis as influências do longa: as cores desnaturadas e a ausência de diálogos nos primeiros minutos remetem a um clima pós-apocalíptico, semelhante às continuações de “Mad Max”. Isso, porém, é interrompido pelo protagonista recebendo uma mensagem de texto no celular que diz “kd vc???”, o que não só é conflitante com o tom sério da cena como também mostra que o filme se passa em tempo presente, o que deixa os recursos anteriormente citados bem deslocados.
Isso, porém, não tira o mérito do trabalho de fotografia de Gustavo Hadba, que, mesmo com um tom cinza predominante, consegue capturar a beleza serena do cenário, prestigiado constantemente em enquadramentos muito abertos. Porém, enquanto a direção de Vicente Amorim acerta nesses momentos, o uso de planos fechados e da infame câmera tremida durante as cenas de perseguição acaba deixando a ação incompreensível, o que resulta em vários acontecimentos importantes para a trama não sendo vistos de forma clara. O uso de alguns planos inusitados também não ajuda muito – mostrar o ponto de vista de uma corrente sendo girada no ar pode ser uma boa idéia no papel, mas na prática é apenas confuso.
Por conta disso, Amorim não cria sequências de ação memoráveis como as de suas inspirações, e a atmosfera que temos é menos parecida com o trabalho de George Miller e mais semelhante a algo como “A Bruxa de Blair”, com os protagonistas perdidos em uma área estranha e hostil, andando em círculos. Também é notável o quanto a produção pode ser considerada um filme slasher, pelo menos no que diz respeito aos efeitos: pontuais e bem executados, demonstram que o longa não tem medo de derramar um pouco de sangue.
Porém, ao contrário dos que a maioria dos filmes desse subgênero fazem, “Motorrad” não tem uma cena para estabelecer seus personagens. Isso se prova ser o maior problema da produção, que acaba tendo apenas uma lista de nomes a serem assassinados ao invés de pessoas com quem o espectador possa se importar. Consequentemente, a produção acaba desperdiçando seus atores com personalidades monótonas, com alguns não chegando a ter nem uma dúzia de falas.
Os problemas com o roteiro não param por ai, já que o script é tão enigmático quanto uma temporada de LOST, e assim como a série de TV, não é muito fã de explicar o que está acontecendo. O resultado é uma trama enrolada, com diversos detalhes que parecem desconexos, personagens com motivações duvidosas e reviravoltas obscuras. Outros pontos da história parecem surgir sem motivo, como o revólver que Tomás (Pablo Sanábio) revela estar carregando, que procede em ser esquecido e não utilizado pelo restante do filme.
Por fim, “Motorrad: A Trilha Da Morte” é um projeto ambicioso para um filme nacional, e por mais que tenha suas falhas, é um exemplo de que o Brasil tem um potencial a ser explorado para produção de mais filmes de gênero.
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