Em tempos obscuros, quando um governo ditatorial e opressor toma conta de um país, a imprensa, mesmo perseguida, se torna uma grande aliada do povo, e por meio dela que as verdades sobre o cotidiano da sociedade vêm à tona, independente da repressão exercida pelo poder. A situação fica insustentável, no entanto, se a imprensa trabalha em pról desse poder e acoberta seus crimes.
É isso que aconteceu na Ucrânia em 1933 quando o regime de Stalin transformou a região em um grande campo de trabalho através de práticas sub-humanas. Parte dos repórteres, à época liderados por Walter Duranty (Peter Sarsgaard), correspondente do New York Times em Moscou, e vencedor do Pulitzer, eram pagos pelo governo para acobertar tudo.
Ou seja, tanto o regime que se dizia socialista, assim como os seus comparsas estrangeiros que viviam no luxo da capital soviética, usavam camponeses como ferramenta de sustento em uma das maiores atrocidades cometidas por um governo contra seu próprio povo da história. Os fatos só foram conhecidos pelo mundo por causa do jornalista galês Gareth Jones (James Norton), que empresta seu nome ao filme de Agnieszka Holland, “Mr. Jones”.
Aproveitando-se da chancela do governo britânico, Jones consegue ir a Moscou como convidado político e, depois de se desvencilhar do grande aparatado de segurança, vai ao interior do país. Quando ele chega, o que vê são corpos de bebês e mulheres largados na neve após morrerem de fome, e pessoas que só conseguem sobreviver através do canibalismo ou comendo pedaços de troncos de árvores.
A partir de sua descoberta, o jornalista entrará em choque contra um império, que usará sua máquina para calá-lo. Jones, mesmo correndo risco de morte, não desiste em fazer suas denúncias. Inclusive, conta o ocorrido para George Orwell, que usa a história como base para escreve seu clássico “A Revolução dos Bichos”.
A obra Holland se apoia nesses eventos reais para tecer uma crítica ao jornalismo comprado por Interesses políticos, ao mesmo tempo em que louva o que busca sempre a verdade e defende a liberdade. Mesmo que sua linguagem narrativa seja acadêmica, a cineasta compensa ao destacar um figurino de roupas negras dos famintos com a pouca iluminação escolhida pela direção de fotografia, o que confere um quase preto e branco para aquele ambiente desolador.
Mas, a cinematografia e os outros elementos técnicos não seriam suficientes para segurar o público na cadeira do cinema se o bom roteiro de Andrea Chalupa não aliasse fatos com situações tensas criadas apenas para o filme. Os personagens são bem desenhados em seus caráteres para que o espectador seja chocado e reflita muito após o término da sessão.
* Este filme foi visto durante a 43ª Mostra de Cinema de São Paulo.
Imagem e vídeo: Divulgação/Kinobrob Film
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