A In Cena Escola de Artes e Produções trouxe para o Teatro João Caetano o espetáculo “Nas Alturas“, adaptação brasileira do musical sucesso da Broadway “In The Heights”, criado pelo famoso ator e roteirista Lin-Manuel Miranda. Com um elenco jovem e promissor, o espetáculo diverte. Contudo, alguns pontos parecem impedir que a narrativa decole. Confira a crítica:
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O libreto original fala das alegrias, dores e desafios que os imigrantes latinos enfrentam quando tomam a decisão de começar uma vida nos Estados Unidos. A expectativa ao imigrar é sempre prosperar, ter a oportunidade de realizar sonhos. Enfim, mudar uma realidade muitas vezes difícil. Estamos, portanto, diante de uma história universal alavancada com muita inteligência com o hip hop, uma arte de rua e marginal, como muitos imigrantes se tornam ao chegar na América.
Mas nem tudo são flores no texto. Ao invés de prestar uma homenagem à luta do latino nos EUA, reforça muitos estereótipos e deixa de abordar o preconceito com profundidade, mesmo quando surge a oportunidade de tratar do tema, através do romance da jovem que fracassa na faculdade e inicia um romance com um jovem de origem diferente da sua. A adaptação brasileira “Nas Alturas” também deixa de lado essa discussão. Outro aspecto controverso da narrativa, é depositar o sonho de crescer na vida num bilhete de loteria, ou seja, na sorte.
Adaptação brasileira tem erros e acertos
Por ser uma história universal, a adaptação de Victor Louzada acerta em não tentar contextualizar situações tipicamente brasileiras. Quase imediatamente é possível fazer um paralelo com os nordestinos quando chegam ao Rio de Janeiro, sem precisar dizer com todas as letras. O ponto que fica confuso é o excesso de palavras em espanhol, que parece querer nos lembrar a todo instante a latinidade. É um artifício comum no Brasil ao adaptar obras estrangeiras, mas neste espetáculo soa bem caricato em determinados momentos.
O ponto alto da montagem é certamente a excelente direção musical de Anna Priscila Lacerda, que cuidadosamente combina momentos de muita intensidade vocal, especialmente do elenco feminino, com outros mais leves e cômicos dos atores que narram suas histórias em forma de rap. O elenco por sua vez, é jovem e cheio de energia, e esbanja carisma mesmo quando falta experiência em cena. As coreografias de Clara Costa são simples e não impressionam muito, porém são bem executadas, considerando a complexidade de um elenco que tem 27 pessoas no total.
O belo cenário, que busca representar o bairro Washington Heights, vai além do decorativo. É bem explorado pelo diretor Victor Maia e realmente traz a atmosfera e o fluxo de um bairro, com todas as histórias que se entrecruzam entre músicas e diálogos. No aspecto técnico, vale destaque ainda para o bom trabalho de iluminação. Ao final de “Nas Alturas”, testemunhamos tantos aplausos que reforçam o amor do brasileiro por musicais, mesmo por produções que ainda precisam melhorar alguns aspectos.
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