Crítica | Nefarious

Uma Falha Cinematográfica de Fé

Leitor, com todo sacristão respeito, me diga uma coisa: Se você fosse um demônio, especialista nas artes de enganar e manipular, viraria pro homem que você tem que convencer de que ele tem que ser o arauto do caos de que 1. Deus está vivo e ama você; 2. Que Jesus morreu na cruz pra nos livrar do pecado; 3. Que aborto e eutanásia são imorais perante a religião cristã; 4. Explicaria toda a lógica do porque você deve ser temente a Deus; 5 (o melhor de todos). Que caso você aceite, sua alma estará condenada eternamente ao inferno? Acredito que não, você provavelmente ofereceria um pacto, seduzindo o homem. Exatamente tal qual Lúcifer fez no deserto com Jesus.

Mas pelo visto, os próprios autores do roteiro de “Nefarious” se recusaram a ler a bíblia para escrever o roteiro. No longa-metragem, o psiquiatra James Martin deve decidir se o assassino em série Edward Wayne possui ou não algum transtorno psiquiátrico, e então baseado em sua avaliação, condena-lo ou não a cadeira elétrica. Ao chegar na prisão, o condenado diz ser o demônio Nefarious, e que até o final daquela sessão, os dois iriam cometer três assassinatos.

Um completo desastre velado pela crença

Não deixe que a sinopse cativante te engane, o filme que se vende como terror possui, ao todo, zero cenas de terror. Nenhuma se quer. Nada. O filme é composto somente por diálogos durante grande parte da sua duração. O que, claro, não seria um problema caso fosse feito de forma inteligente, criando tensão e realmente te induzindo a estar atento a “guerra” que está sendo travada, mas o que ocorre é totalmente o contrário. As falas e os personagens muitas vezes se contradizem, um ótimo exemplo é quando em determinado tempo da propaganda evangélica, o belzebu temente a cristo diz que não poderia responder uma pergunta dentro de uma lógica humana para o doutor. E cinco segundos depois, ele responde à pergunta perfeitamente usando de termos comuns do vocabulário popular.

A contradição não se limita somente as falas dos personagens, mas a construção deles em si, o psicólogo selecionado a dedo para condenar um homem a morte possui zero controle emocional e zero decoro profissional. Me diga, como um doutor que tenha publicado dezenas de livros e artigos sobre a mente humana não consegue se manter calmo por no mínimo 2 segundos de filme, sendo soberbo e subestimando um assassino em série que manipulava suas vítimas antes de as assassinar?

A mediocridade não se limita ao roteiro, e se demonstra presente também na direção do filme. Mas que não me permite que eu seja tão extenso, afinal a falta de criatividade faz com que o filme pareça um grande podcast com planos muito mal pensados.

Se você achou que não podia piorar…

Não posso mentir, no meu descuido, assisti ao longa sem saber quem era a equipe por detrás do filme, mas não me surpreende que sejam os mesmos criadores de “Deus não está morto” que também é outra propaganda católica mal feita: tecnicamente e religiosamente.

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Quer assistir a uma boa obra que provavelmente vai te fazer repensar a visão que você tem da igreja católica, e que além de tudo, possui algumas cenas de terror interessantes, com ótimas atuações? Assista “O exorcismo de Emily Rose”. Não é perfeito, pesa a mão em dados momentos para se alinhar a visão do catolicismo, mas ao menos faz isso dentro de uma lógica. Ser cristão é ter fé, e a fé é nada mais nada menos é do que crer em algo que não dá sinais claros de existência, logo, possui dúvida! Fazer com que o público questione a existência do seu antagonista pode ser uma ferramenta incrível pra criar tensão e os deixar interessados, o que aponta para milhares de possibilidades desperdiçadas com essa porcaria. Em resumo, se o papel do filme era fazer com que o público se convertesse ao cristianismo, ele conseguiu! Todos estão rezando ao Senhor para que parem de dar dinheiro pra esses malucos, e que eles nunca mais consigam produzir um filme em vida.

Crítica | Nefarious

Sinopse

Um serial killer condenado diz a um psiquiatra que ele é um demônio que pode possuir seu corpo. Ao final da avaliação, ele também avisa ao médico que em breve vai cometer três assassinatos.

Prós

Nada

Contras

Péssimo roteiro

Péssima direção

0.5

Nota

Imagens