Junte um espaço fechado, pessoas privadas de seus direitos de ir e vir, câmeras, pessoas para vigiar e qual é o resultado? Uma prisão, e o que gera os conflitos em uma prisão? Essa é uma das perguntas que a experiência que é retratada no filme “O experimento do aprisionamento de Stanford” tenta responder, porém ao invés de um resultado com respostas conclusivas, o experimento acabou trazendo um número muito maior de questões e variáveis que se pudesse esperar e ai que mora o trunfo da direção que o filme toma.
Dirigido por Kyle Patrick Alvarez, o filme conta a história real de um experimento que ocorreu na universidade americana de Stanford nos anos 70, onde universitários que foram escolhidos (e pagos) para simular um ambiente prisional. A maior parte deles foi escolhida para ser detentos e a outra parte para ser carcereiros. O objetivo da experiência era ver em que grau um ambiente pode mudar o comportamento do indivíduo, o professor que idealizou essa simulação só não imaginou que os resultados seriam tão radicais quanto os que ele viu.
O filme vai acompanhando esse desenrolar e consegue ser muito bem sucedido por conta de dois fatores que se destacam na tela: a ambientação, praticamente todo o filme se passa em um corredor que é adaptado para formar a prisão e o elenco que entrega atuações muito verdadeiras. Destaque para os atores Ezra Miller que interpreta o primeiro “detento” que percebe que há algo errado com essa prisão e também para o ator Michael Angarano que faz o carcereiro que decide ser o mais “linha dura” possível com os prisioneiros.
O clima que se assemelha a uma panela de pressão mostra desde o início que o resultado daquilo será uma crise, porém o mais interessante é ver por onde ela vai começar e quais personagens serão afetados por ela. Se o experimento tinha a finalidade de falar sobre efeitos do ambiente nas pessoas, o filme mostra que seu intuito é mostrar o papel da autoridade. Como o senso da tomada ou da falta de poder acaba mexendo com os personagens, não só com os que são as “cobaias” do trabalho, mas também com seus realizadores. O professor Philip Zimbardo (Billy Crudup), aparece como um personagem que quer se afirmar no ambiente acadêmico e ter sua influência e autoridade reconhecidas pelos seus colegas.
O sadismo que é descoberto no comportamento dos carcereiros pode até nascer com eles, mas ele acaba sendo ampliando no momento que essas atitudes violentas são vistas com “indiferença” por Zimbardo e é nessa hora que o expectador percebe que o experimento ultrapassou o ambiente controlado e chegou em seus idealizadores.
Enquanto a história avança todos os personagens se despem, os prisioneiros no início perdem suas roupas para colocar trapos que parecem vestidos, para assim se despirem de suas identidades individuais e embarcarem por completo no ambiente em que são inseridos. Porém os jovens que são incumbidos de serem seus carcereiros também se despem sem perceber, o poder acaba fazendo as máscaras morais caírem e esses acabam enxergando os prisioneiros (que fora daquele ambiente seriam seus pares) como objetos de entretenimento, meros bonecos que podem entretê-los durante esse trabalho que poderia parecer “enfadonho” .
O filme consegue ser acima da média, diverte e faz o expectador pensar bastante em várias questões. Seja no sistema carcerário, bullying, figuras de autoridade, mudanças de comportamento. Em certos momentos pode até ser difícil de ser assistido para certas pessoas, há uma violência muito grave na tela, porém ela não é escatológica ou direta como muitos suspenses da atualidade, o ato violento acaba aparecendo mais na mensagem do que na imagem na maioria das cenas e isso já acaba mostrando que o diretor conseguiu fazer um filme que foge do comum.
Por Fernando Targino
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