É sabido que o capitalismo usa da morte de pessoas para se perpetuar. Pobres morrem para que os ricos recebam seus dividendos sem se esforçar. Esse é um processo que ocorre por debaixo dos panos, quase de forma sobrenatural. Ninguém percebe tais mortes, já que elas não são colocadas na conta do capitalismo, e sim na da violência, na da fome, na da falta de educação… que, no final, são apenas as consequências do desastre causado pelo grande vilão. Entretanto, a força do dinheiro pode fazer com que milionários saiam de suas mansões e cometam diretamente assassinatos em massa.
Quais as maneiras de se fazer isso? Bem, digamos que alguns endinheirados possuam uma fábrica que produz uma substância danosa à saúde do ser humano, mas que proporciona grandes lucros. Ignorando os avisos de que a tal substância provavelmente é mortal, ordenam que os resíduos tóxicos da produção sejam despejados no rio que abastece dezenas de casas de uma comunidade semirrural, matando animais e pessoas. Essa é a história baseada em fatos de “O Preço da Verdade”, como também é a de “Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento”, lançado nos anos 2000.
As duas obras compartilham do mesmo tema, e mostram cidadãos desafiando grandes corporações em prol da justiça. A diferença é que nesta nova produção, o que envenena a água é o Teflon usado em panelas antiaderentes, e não o cromo, o grande matador do filme de Steven Soderbergh. Também sai Julia Roberts como uma mulher comum que estuda direito para defender sua comunidade nos tribunais, e entra Mark Ruffalo, um advogado experiente que presta serviço jurídico para a mesma empresa que pretende processar. De início ele teme pela carreira, depois fica obcecado pelo caso, que consome anos de sua vida.
Outro fator divergente é a direção. Todd Haynes é, sem dúvidas, um excelente diretor, basta ver filmes como “Carol” e “Longe do Paraíso”, mas em “O Preço da Verdade” ele parece apenas alguém contratado para sentar-se da cadeira e dizer “ação!”. Isso porque em nenhum momento da projeção há algo que exponha a veia autoral do cineasta californiano, o que não pode ser dito da excelência cinematográfica empregada por de Soderbergh em “Erin Brockovich”. Que fique claro: Haynes nunca é ruim em sua função, ele apenas parece desinteressado pela história que está contando.
Talvez, parte da culpa seja do roteiro esquemático de Mario Correa e Matthew Michael Carnahan, que não faz com que o espectador se interesse pelos personagens, mesmo esses estando em situações de vida ou morte. É apenas no advogado vivido por Ruffalo que há o mínimo de vínculo, o que se deve ao carisma do ator e não à jornada de seu personagem. De resto, pode-se apreciar a boa fotografia em tons de cinza de Edward Lachman, que aliada ao clima frio de West Virginia, expõe o estado de espírito de pessoas que estão morrendo por causa da água que saí de suas torneiras.
Realmente, “O Preço da Verdade” não faz jus ao currículo de seu diretor, o que não significa que seja descartável como peça de denúncia contra empresas que continuam destruindo o meio ambiente e matando os que vivem nele. Nos dias de hoje, filmes como esse acabam ganhando importância, deixando as questões cinematográficas em segundo plano.
Vídeo e Imagens: Divulgação/Paris Filmes
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