“Orlando: Minha Biografia Política” é um filme documentário sobre a vida das pessoas transexuais e não-binárias pelo ponto de vista do diretor, conhecido como escritor, Paul B. Preciado. O diretor também é um homem transexual, e decide utilizar de vários elementos para abordar o tópico citado, sendo um deles a obra de Virginia Woolf, “Orlando: Biografia”.
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É interessante a forma que Paul Preciado trabalha seu documentário com inúmeras vertentes, sendo a linguagem teatral (provavelmente inspirada pelo diretor alemão Michael Fassbinder), a metalinguagem audiovisual, simbolismos inspirados em pinturas e até mesmo um pouco da loucura que se encontra em obras como as de John Waters. Preciado não se limita em mostrar que se preparou para dizer o que queria dizer em formato audiovisual.
A direção de Preciado foca na junção entre o fantástico e poético com as entrevistas que ele faz com cada uma das pessoas, o que torna um filme que ao mesmo tempo carrega um discurso fortemente realista mas que não o impede de mostrar como o fantástico está presente no nosso cotidiano e muitos odeiam a simples existência disso. Preciado não perde tempo em bater na tecla de seu posicionamento político sexual em boa parte de seu filme.
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Além da união das entrevistas com um surrealismo teatral (não dos entrevistados, mas no espaço a redor deles e em seus figurinos), o filme carrega uma trilha sonora que vai da música eletrônica até o metalcore, mostrando um contraste de diferentes potências em um espaço que é a tela, mas que mostra a ideia da sexualidade como algo próximo de um gênero de arte, que não tem como se resumir a identidade sexual e a sexualidade em um sistema binário.
Claro que para aqueles que estão habituados com a escrita de Preciado, não esperavam menos do filme. Mas a obra consegue surpreender o espectador que está ciente de esse ser o primeiro longa do diretor, e ser executado de forma tão plural em execução do discurso. Mas a própria pluralidade realizada na obra, a torna em certos momentos exaustiva.
A exaustão não chega ao espectador pelo conteúdo imagético, mas pela repetição em certos momentos na forma da execução do discurso. Utilizemos o último curta de 42 minutos do diretor Wes Anderson, “A Maravilhosa História de Henry Sugar”. O filme tem apenas 42 minutos de duração, mas o espectador sai com exaustão das falas infinitas dos personagens e da narração robótica.
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Aqui sofre de um problema relativamente parecido. A todo momento, Preciado introduzindo mais uma narrativa simbolista atrás de outra e outra, começa a causar a exaustão do espectador que já entendeu o grito de Preciado sobre o quão errado é o sistema binário sexual inventado pela Europa. Mas que ao chegar quase no final da obra, começa a se questionar “ok, entendemos, mas e agora?”.
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Ao mesmo tempo que o discurso e as entrevistas são de extrema importância, eles perdem lugar a própria estrutura e a loucura estética e simbolística que é proposta por Preciado. Aquela potência carregada em formato audiovisual começa a se tornar mais um filme sobre a capacidade de performance da direção do que do discurso em si.
“Orlando: Minha Biografia Política” carrega potência em sua execução e um discurso carregado de poesia e raiva sobre um sistema que aniquila e destrói aos poucos pessoas que estão fora dele. Mesmo Preciado querendo mostrar a sua capacidade em fazer poesia com a imagem de todos os jeitos chegando a saturar, o filme não perde sua importância e faz jus a escrita de Paul B. Preciado.
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