Desde o momento em que nascemos, estamos inevitavelmente caminhando em direção à nossa própria morte. Este famoso aforismo poderá em breve se tornar obsoleto, graças aos avanços da medicina no campo genético. A busca pela imortalidade ou pela reversão do envelhecimento é o ponto de partida do filme finlandês “Palimpsesto”. A trama gira em torno de um grupo de idosos que voluntariamente se submete a uma pesquisa que promete rejuvenescer seus corpos.
Em outras palavras, o filme da jovem cineasta Hanna Marjo Västinsalo assemelha-se a “O Curioso Caso de Benjamin Button”, porém desprovido de todo o aparato técnico hollywoodiano para efeitos visuais e com uma maior carga de reflexões existenciais. Portanto, as transições que mostram os personagens recuperando a juventude são realizadas unicamente por meio da montagem, eliminando a necessidade de maquiagem e efeitos de CGI, o que é compreensível, uma vez que se trata de um filme independente.
É claro que um orçamento mais generoso poderia conferir à produção uma aparência mais luxuosa. No entanto, o objetivo de “Palimpsesto” não é causar impacto visual, mas sim instigar reflexões sobre a chegada da velhice, a efemeridade da vida e a crescente solidão que caracteriza a existência do ser humano moderno. Cada um dos personagens do roteiro, escrito pela própria Marjo Västinsalo, possui um objetivo pessoal ao se voluntariar. Por exemplo, uma das protagonistas deseja uma nova chance para construir uma família, uma vez que não tem esposo ou filhos. Enquanto isso, outro aspira a ter tempo para estudar física, na esperança de tornar-se um astronauta.
Esses personagens são minuciosamente acompanhados com a câmera frequentemente próxima de seus corpos e rostos. A profundidade de campo nas cenas reflexivas, às vezes desprovidas de diálogos, é reduzida, o que confere à narrativa a intimidade desejada pela diretora. Com isso, fica clara a intenção de contar uma história de pessoas comuns e seus dramas individuais, e não abordar algo universal. Embora as implicações da descoberta da “fonte da juventude” possam gerar debates sobre os problemas sociais e políticos que a nova tecnologia acarretaria, essa não é a temática que os realizadores desejavam abordar.
Outro elemento que contribui para a atmosfera intimista é a paleta de cores escolhida. Predominam o preto e branco, bege e cinza nas vestimentas e nos objetos de cena, estabelecendo um tom melancólico e desolador à obra. “Palimpsesto” requer, portanto, apenas da perícia narrativa e textual de seus realizadores para cativar com uma história profundamente humana e rica em camadas. Além disso, alcança um clímax emocionalmente mais intenso em seus momentos finais, quando uma das personagens toma uma decisão que reverbera em todas as ações e escolhas dos demais, tornando a conclusão ainda mais comovente.
Vale ressaltar ainda que o termo “Palimpsesto” remete a pergaminhos que eram meticulosamente polidos e raspados, possibilitando a escrita de novos textos sobre eles. No filme, um dos personagens fornece um exemplo de um quadro no qual há uma pintura, e ao removê-la, revela-se uma imagem consideravelmente mais antiga por baixo. Será, contudo, que a imagem que está lá há muito tempo precisa realmente ser descartada para dar lugar a algo mais novo ou ela é ainda digna de apreciação? Essa é uma reflexão causada após os créditos finais e que ficará na cabeça do espectador mais sensível ao tema.
Este Filme foi visto durante a 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
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