A nostalgia é um sentimento muito particular, só entende quem a sente. Não bastasse ser particular, ainda é complexa, apresentando variações do que teoricamente seria algo originalmente único. A mais comum é a saudade de momentos passados, pessoas, lugares ou quaisquer coisas que se envolvam afetivamente com tempos que já não mais voltam, mas há também a nostalgia daquilo que não foi vivido. Woody Allen já apresentava bem esse tema em “Meia-Noite em Paris” e “Paris 8”, nova obra de Jean Paul Civeyrac possui atmosfera semelhante. Não que seja um tema abordado nela, mas é um drama tipicamente europeu que possui atmosfera estética e sonora que nos remete diretamente a esse tipo de sensação.
É uma jornada simples, mas repleta de camadas e texturas dentro de uma premissa que não é instigante a primeira vista. Etienne, jovem do interior da França, parte para Paris para estudar cinema. Deixa sua família e namorada para encarar desafios que propõe a ele mesmo. E é ele e as figuras com quem se envolve que são a alma do filme. Discussões sobre cinema, relacionamentos efêmeros e a experiência do amadurecimento são temas centrais aqui e que se tornam mais interessantes na medida em que o protagonista se mostra muito dúbio. Questionamos algumas atitudes suas na mesma medida em que compreendemos outras, mas jamais deixa de ser humano. Tudo isso, claro, envolto em camada fortemente poética.
Dessa forma, não poderia ser mais visualmente coerente se não fosse um longa em preto e branco. Reforçando as questões nostálgicas mencionadas antes, e até mesmo em diálogo com famosas correntes antigas do cinema, é esse aspecto da fotografia que dá a “Paris 8” a sua principal sustentação. Se não soubéssemos que filme se trata, poderíamos achar que um frame vem de algum título da nouvelle vague ou algum outro europeu datado do século XX. Além disso, as longas cenas dão uma sensação forte de cotidiano, de vagarosidade e contemplação.
Esse talvez seja o principal ponto fraco do filme, dada sua longa duração e dilatação dos acontecimentos pela projeção. As coisas demoram demais a acontecer, existe uma vagarosidade excessiva aqui que poderia facilmente ter sido tirada no corte final. Ainda que a jornada seja interessante, é bastante difícil chegar ao fim sem algum tipo de cansaço com o que se acabou de assistir. O que também não ajuda é o fato de que os diálogos soam, até certo ponto, artificiais. Há um ou outro que não se imaginaria muito acontecendo na realidade, e isso se deve a certa inflexibilidade no roteiro que aqui é apresentado.
De toda forma, “Paris 8” segue sendo um longa interessante. Vale pela jornada percorrida e propõe importantes temáticas para discussão. Seria inocente, no entanto, não perceber que ele se perde em um número considerável de momentos e que flerta com o tédio em outros. Em termos de drama europeu, não é uma das melhores opções, mas nem por isso deixa de ser bom. A jornada de Etienne não é das mais originais, porém é eficaz na maior parte daquilo que deseja, e há de se ser justo quanto a isso.
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