No indiano “Pedro”, o personagem que dá nome ao filme mata acidentalmente uma vaca, e acaba enfrentando as consequências de seu ato em um vilarejo rural do país asiático. Ele, além de matar um ser sagrado para a religião indiana, ainda é mal visto na sociedade por ter roubado a esposa de um amigo e também por ter um caráter duvidoso em outros aspectos. Basicamente, ele é um capataz que é contratado para eliminar macacos e um ladrão de joias, mas não pode ser caracterizado como um vilão. É apenas um homem tentando sobreviver em um ambiente que se tornou hostil a ele.
Para contar a história de Pedro, o cineasta estreante Natesh Hegde usa uma linguagem típica de filmes ditos “de arte”: planos de longa duração ou com movimentos de câmeras lentos e cuidadosos, geralmente em travellings horizontais. Isso cria um clima desolador, como se os espectadores estivessem acompanhando um velório. Para reforçar o lúgubre, os personagens são emoldurados em janelas ou batentes de portas, que os deixam em espécies de caixões simbólicos. Grades são outras presentes entre eles e as lentes do diretor de fotografia Vikas Urs, e há ainda os para-brisas molhados que embasaram ou deformam os rostos que estão dentro dos carros. Claro que os vidros e as grades servem para contestas a ética dos homens e não como um prenúncio de morte.
Todo esse bom aparato narrativo, no entanto, não salva “Pedro” de ser uma obra enfadonha. Talvez fosse melhor apreciado se tivesse uma menor duração, já que durante as suas uma hora e quarenta minutos de projeção não são raras as cochiladas nas poltronas. Esse problema de ritmo é propiciado pela montagem e pela direção, mas o roteiro colabora com sua falta de propósito universal. O texto é apenas um recorte da vida de pessoas cheias de conflitos pessoais e religiosos muito particulares de um povo, e isso pode ser pouco atrativo para os olhares externos.
Com isso, “Pedro” acaba tornando-se um filme para poucos, e mesmo esses devem esquecê-lo com o passar do tempo. Isso é uma pena, pois ele vem de um país que quase não aparece no radar cinematográfico mundial sem que seja com alguma produção da famosa e comercial Bollywood. A produção digamos, mais autoral, acaba tendo poucas oportunidades de aparecer e fica limitada aos festivais. E para sair de um festival e ganhar o mundo, é preciso que o filme seja marcante, e esse não é o caso aqui, infelizmente.
“Pedro” foi visto durante a 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
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