Lançado no dia 6, do sexto mês de 1976, “A Profecia” foi um dos marcos mais importantes da história do terror sobrenatural no cinema. Responsável pela popularização de vários clichês do gênero, sendo o principal a imagem de Damien Thorn – a criança demoníaca – que desde então tem sido repetida e parodiada diversas vezes na cultura geral. Uma dessas representações mais recentes é na comédia Original Netflix, lançada em 2017, “Pequeno Demônio”, que traz uma abordagem humorística que, embora não muito original, é bem sucedida.
Em “Pequeno Demônio”, Gary (Adam Scott) se casa com sua nova namorada, Samantha (Evangeline Lilly), mas encontra dificuldades em estabelecer um bom relacionamento com seu enteado, Lucas (Owen Atlas), que é um menino de cinco anos calado que se comporta de forma um tanto peculiar. O novo padrasto tenta conquistar o afeto da criança, mas começa a perceber uma série de incidentes bizarros que parecem acontecer sempre que ela está presente, geralmente terminando com mortos e feridos, e passa a acreditar que o menino pode ser o próprio Anticristo.
Dirigido e escrito por Eli Craig (Tucker & Dale Contra O Mal), o filme tem um roteiro bem construído, mas também problemático. Com um estilo parecido com o de Edgar Wright, vários pontos na primeira metade do longa que parecem apenas algumas piadas deslocadas retornam no final em grande escala e se mostram relevantes para a trama. Porém, ao mesmo tempo, grande parte do segundo ato é gasto com subtramas que pouco importam, que aparentam existir apenas para aumentar a sua duração, e o seu final é marcado por uma resolução desnecessariamente complicada.
O modo como alguns dos pontos de virada na história tomam forma também é repentino, por exemplo, o desenvolvimento do relacionamento entre Gary e Lucas, que muda drasticamente, sem motivo, com o passar de uma cena. Apesar disso, o script se redime no modo em que coloca paralelos entre um padrasto que enxerga o enteado como uma criança maléfica e o que realmente tem o Anticristo como filho postiço.
Outro ponto notável da produção é o modo como constrói o humor, tanto nos diálogos como na técnica. Ao invés da usual comédia escatológica que infesta filmes do tipo, “Pequeno Demômio” aposta – com sucesso – no absurdo e nas paródias dos clichês do gênero, além de alguns personagens secundários excêntricos que roubam a cena, como Al (Bridget Everett), a melhor amiga lésbica de Gary e Karl (Tyler Labine), um videomaker paranoico e com distúrbios de grandeza.
A direção de Craig também é eficiente em passar esse tom abusando de planos detalhes rápidos e de cenas que exageram propositalmente a fórmula, como a primeira aparição de Lucas que é acompanhada por um acorde assustador que interrompe a trilha sonora alegre. O design de produção, como o cenário do quarto “macabro” do menino e o seu boneco de meia em forma de bode, também contribuem com o humor visual, assim como os efeitos digitais, que não são muito bons mas que funcionam com a proposta do longa justamente por isso.
Tudo isso é entregue por um elenco que não decepciona. Evangeline Lilly interpreta bem uma mãe ingênua que ou finge não ver ou falha em reparar nas malvadezas de seu filho, enquanto Adam Scott tem um bom timing cômico para reagir as loucuras que presencia. Owen Atlas, que interpreta Lucas, também se destaca por sua presença de cena, já que consegue se fazer ameaçador sem pronunciar muitas falas no decorrer da história.
“Pequeno Demônio” é uma comédia que tem seus deslizes – principalmente com cenas filler, que pouco acrescentam na trama – mas tem momentos divertidos o suficiente para entreter. O seu maior ponto negativo é não atingir todo o seu potencial e assim como outras produções Original Netflix – pelo menos no que diz quesito ao terror comédia – se contenta com um bom começo, um desenvolvimento esquecível e um final razoável.
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.