O diretor Affonso Uchôa já havia demonstrado, no excelente Arábia”, seu desejo de contar histórias vindas de classes marginalizadas. Histórias provindas de indivíduos menos abastados, de classes trabalhadoras e que não contassem com a sorte dos privilégios que alguns poucos tem acesso dentro de nosso país. Fez isso, deve-se dizer, por meio de um olhar muito autoral e muito cuidadoso, que não pretende glorificar a pobreza e tampouco se apropriar dela para então realizar seu filme. Se em “Arábia” a proposta era uma ficção sobre a trajetória de vida de um trabalhador, “Sete Anos em Maio” promove olhar mais documental e cru para essa perspectiva do cineasta.
O novo trabalho de Uchôa é mais conciso, de menor duração e nem por isso é mais fraco ou perde a firmeza em sua linguagem. “Sete Anos em Maio” é, sem dúvidas, muitíssimo impactante por trazer uma história real consigo. A maior parte da obra consiste em Rafael, protagonista, narrando episódios de sua vida. Ele remonta perseguições policiais que sofreu, envolvimento com crime e com drogas e também muita violência. O realizador, então, aponta a câmera para ele, que se mantém estática o tempo inteiro e que sempre está próxima do rapaz, como se ele estivesse conversando com a audiência. O texto do monólogo não apenas possui força por si próprio, mas pela forma com a qual essa sequência é posta, dando um caráter intimista e próximo mesmo que os assuntos tratados sejam densos e desagradáveis.
A fotografia, por outro lado, dá um tom sombrio e soturno para o filme na medida em que há um trabalho muito preciso da quantidade de luz que existirá em tela. Mesmo que haja predominância das sombras, da escuridão, tais elementos se encontram na quantidade correta para que o impacto dessa decisão seja sentido sem banalizá-la. De alguma forma, mesmo passando por tantas desventuras, era necessário que um pouco de luz e esperança aparecessem dentro daquilo que Rafael nos conta. Apenas o fato de ele poder prestar seu depoimento já é, na realidade, alguma vitória.
“Sete Anos em Maio” é mais direto que trabalhos anteriores de seu criador, e nem por isso é menos impactante. Em sua duração, que vai um pouco além de quarenta minutos, há muito mais qualidade e primor cinematográfico que longas de duração superior a duas horas e mostra como Affonso Uchôa tem o filme sob controle e sabe bem como contar a história que quer. Cheio de força e de méritos.
Imagens e Vídeo: Divulgação/Camila Bahia
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