Os Emirados Árabes são um país jovem, fundado nos anos 70, e, que por consequência, apenas recentemente começou a desenvolver seu cinema nacional. O primeiro registro cinematográfico da nação é de 2005, porém, apenas depois de 2010 que suas produções se tornaram algo mais frequente, e um dos nomes responsáveis por isso é do diretor Ali F. Mostafa, que em 2016 lançou o seu terceiro filme, “The Worthy”, que teve um alcance mundial devido a sua inclusão no catálogo da Netflix.
A trama se passa em um pós-apocalipse e segue um grupo de sobreviventes, liderados por Shuaib (Samer al-Masry), que estão abrigados em uma fábrica antiga que tem recursos o suficiente para uma vida estável. Porém, isso muda com a chegada de Mussa (Samer Ismail), um homem que pede abrigo, mas que possui segundas intenções, caindo sobre Eissa (Mahmoud Al Atrash), filho de Shuaib, a tarefa defender seu lar desse perigoso estranho.
Essa é uma temática arriscada para se apostar tão cedo no desenvolvimento do mercado cinematográfico e ela acaba se demonstrando ousada demais para o orçamento do filme, pelo menos no que diz respeito aos efeitos especiais. Enquanto a maioria dos sets e efeitos práticos passam a sensação de realidade, o uso insistente de fogo digital por cima de certas cenas é desconcertante.
O mesmo pode ser dito para a fotografia, que é bela quando enquadra os cenários reais e extensos de montanhas e desertos, mas quando tem que mostrar as ruinas de uma cidade, por exemplo, tem que usar uma computação gráfica que, somada ao movimento de câmera, dão a impressão de uma animação de video-game. A produção também tem um momento específico, com um set minimalista e uma tela verde óbvia, que se assemelha mais a um palco de teatro do que o de uma filmagem.
Apesar disso, o design de produção é notável. Os cenários de interiores são muito bem ambientados e é visível o impacto que esse mundo sofreu, com um destaque para os itens improvisados que os personagens utilizam, como o tabuleiro de xadrez feito de garrafas. Também é interessante como, ao contrário do visual monótono de outros filmes do estilo, a direção de arte é relativamente colorida, porém desbotada.
Em questão de direção, Mostafa se destaca não só pela ambientação, mas também pelo modo como filma as cenas de ação: os cortes rápidos e os movimentos de câmera estão presentes, mas não são confusos e nem ofuscam o que acontece, com todas as sequências bem claras. O ritmo geral do longa, porém, é um pouco estranho, com o seu aparente clímax ficando deslocado, uns bons vinte minutos antes do seu fim.
As atuações são competentes, mas os atores principais não esboçam muita reação diante de acontecimentos importantes, o que dá a impressão de que os personagens são um tanto apáticos. Porém, a interpretação de Samer Ismail como o vilão Mussa, que consegue ser carismático e ameaçador, e a de Ali Suliman que vive Jamal, o integrante antissocial e com ideias diferentes do resto dos sobreviventes, são diferentes o suficiente para se destacar.
Todos esses elementos são unificados por um roteiro que não é ruim, mas é ordinário e bem pontual: no início de cada cena é possível prever tudo que se desenrolará naquele momento. Outro ponto que pode ser negativo é que o enredo não estabelece os personagens antes de causar a situação problema, desse modo, vários membros do grupo são pouco mais que figurantes, e certas intrigas parecem que surgem do nada, sem muito preparo.
Por fim, “The Worthy” é um filme problemático, mas que, tendo em vista a sua produção, é digno de ser assistido. Ele é comparável ao primeiro longa do Mad Max, que é a origem de um universo pós-apocalíptico amplo, e tendo em vista o gancho para uma continuação inserido no seu final, é justo dizer que, talvez, o cinema dos Emirados esteja encarando sua primeira franquia.
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