Com um excesso de produções das gigantes corporativas, têm se tornado cada vez mais árduo manter contato com um cinema fora do mainstream. O que é realmente uma pena, ja que é fora dos grandes holofotes de Hollywood que as mais humanas histórias tem espaço para florescer.
Ambientado na década de 50, “Um amor impossível” se inicia logo após a jovem datilógrafa Rachel conhecer o carismático burguês Phillip, e com ele ter uma filha chamada Chantal. Porém, a diferença das classes sociais, e conflitos sobre o registro oficial, acabam levando a uma tensa e complexa trama sobre a fragilidade das relações familiares.
A complexidade citada acima vem, em grande parte, da linguagem adotada pela diretora, Catherine Corsini, que aqui opta por deixar muitos dos elementos mais fortes do roteiro implícitos com a montagem. Criando assim um cinema cru que trabalha com temas como diferenças de classes e abuso físico/psicológico sem uma exposição visual didática.
Há sempre uma linha tênue na abordagem estética de temas como abuso, enquanto algumas narrativas acabam não achando uma conciliação entre o sutil e o apelativo. O maior acerto na direção de Corsini é extrair de seu elenco reações após o contato com abusador. Ela enfatiza para o público pequenos detalhes no comportamento de suas personagens, para que assim fique claro o quão drástico é a mudança na vida (e assim sendo também no comportamento) das mulheres após determinadas relações com um parceiros tóxicos.
Relações essas que parecem vir de contexto marxista, já que o interesse romântico de Rachel e Felipe vai se moldando pelas características da suas respectivas classes econômicas-sociais, deixando clara a intenção da diretora em em demonstrar como a diferença de classes gera, quase de uma maneira simbiótica, abuso por parte de uma classe dominante.
Sendo a jovem e fragilizada Chantal fruto de uma relacionamento fragilizado, devido ao pai semi-presente, é natural que ela acabe se interessando por homens que supram não só sua necessidade paterna, como também sejam capazes de lhe mostrar o “outro mundo” – esse o qual é seu direito de nascença por ser fruto de ambas as classes.
O aspecto marxista da obra é também realçado pela direção de fotografia que nas locações internas da casa de chantal traz sempre closes ou planos mais fechados, enquanto nas cenas com o seu pai são sempre grandes planos abertos, enfatizando assim uma diferença entre os ambientes de acordo com a respectiva classe que ali vive.
Auxiliado a fotografia, está o trabalho competente da direção de arte que consegue recriar épocas distintas sem deixar que o visual fique aberrante (já que são no mínimo 40 anos decorridos no longa). Também há um uso muito eficiente de maquiagem para envelhecimento de alguns atores. Só é uma pena que a maquiagem só está presente em alguns atores enquanto outros são substituídos, causando assim um estranhamento com as 3 atrizes que interpretam Chantal.
Longe do melodrama norte-americano barato, “Um Amor Impossível” é um complexo estudo sobre abuso de classes perpetuado através da paternidade tóxica. O triste é saber que um filme tão importante socialmente, possa acabar sendo ofuscado por qualquer outro lançamento hollywoodiano medíocre.
Imagens e vídeo: Divulgação/ A2 Filmes
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