Os famosos filmes de tribunal estão fora de moda atualmente, contrariamente à tevê, que possui séries de sucesso nesse estilo. Os grandes estúdios não produzem filmes de destaque desse sub gênero há algum tempo. Talvez essa escassez se dê por causa das mudanças do cinema moderno: O público médio que vai ao cinema, a grande massa, são atraídos por filmes mais rápidos, de ação, não querem mais acompanhar diálogos de advogados e juízes, não importando a qualidade da trama.
Cabe ao cinema independente a produção de filmes como “Versões de um Crime”. Nele, Ramsey (Keanu Reeves), um advogado criminalista, vai defender um adolescente (Gabriel Basso) acusado de matar o pai milionário (James Belushi). O pai, antes da morte, é acusado de agredir frequentemente a mulher (Renée Zellweger), o que é usado pelo adolescente como justificativa para o crime.
O roteiro escrito por Nicholas Kazan, filho do grande cineasta Elia Kazan, foca-se no advogado e as suas estratégias para tentar vencer o processo. As suas divagações são expostas por uma desnecessária narração em OFF, que diz o que todos já estão vendo em tela ou que já são fatos evidentes. A apresentação das testemunhas e seus relatos são representados por rápidos flashbacks, o que proporciona certo interesse pelo passado dos personagens, mas que, de tão usuais, passam a ser efêmeros.
A direção, assim como o roteiro, não saí do comum, já que se limita a planos de transição e frequentes planos/contra planos nas cenas de diálogos. Sei que um filme de tribunal geralmente é construído de forma acadêmica, mas seria interessante o diretor e seu fotografo estabelecerem a identidade visual de seus personagens apoiada no trabalho de câmera e iluminação, para assim auxiliar a história e trazer mais significado em suas cenas. A câmera é essencial em filmes onde há excesso de diálogos, pois é com ela que o cineasta dá “suspiros” e muitas vezes até suprime algumas linhas superficiais.
“Versões de um Crime” muitas vezes lembra aqueles antigos filmes B, exibidos na sessão da tarde, trazendo atuações dignas desse tipo de produção. Keanu Reeves está em meu coração por causa da trilogia “Matrix”, mas é preciso admitir que ele não passa de um ator mediano e, por vezes, parece estar atuando de forma totalmente automática. Seu personagem aqui precisaria de uma caracterização mais focada no seu caráter, trazendo mais carga dramática em acontecimentos nos quais ele se vê confuso ou até acuado por alguma situação fora de controle. Mas, Keanu Reeves usa as mesmas expressões em todos os momentos do filme, a sua movimentação robótica não ajuda nesse processo, a não ser que seja uma espécie de alusão sarcástica à classe dos advogados. O mais triste, no entanto, é ver Renée Zellweger em cena. Em sua volta às telas após sete anos, ela está totalmente modificada por inúmeras plásticas, o que prejudica a sua já limitada capacidade de atuação. Mesmo o conhecido carisma da atriz esvaeceu por causa da artificialidade de suas expressões. Chega a ser patético as tentativas que ela faz para demonstrar algum tipo de emoção em cena, evidentemente atrapalhadas pela falta de elasticidade de seu rosto.
A junção de todos esses fatores transformam “Versões de um Crime” em um filme esquecível que, se não ofende o público por completo, não traz nada com que faça que nos lembremos dele no futuro. O mais grave é o fato de se tratar de um filme independente, que, por definição, não está sobre influência de questões mercadológicas, fazendo com que a liberdade dos cineastas sejam mais evidentes. Por isso, quando ele repete erros de grandes produções, transforma-se em mais uma tentativa de clonagem do que de um filme relevante.
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