Cuidado

eu vi a vida ser socada para fora dos seus olhos

eu vi você desmanchar

eu vi a alegria e a dor se misturarem em uma gargalhada falsa

ha ha ha

cuidado

eu vi você se justificar e quanto mais se justificava

a língua embolava ao redor do meu pescoço e eu não quero sufocar

eu, não

os dedos se aproximando por um enlace até que a minha língua pulasse

[para nunca mais dizer]

cuidado

eu vi você sentar na posição de índio e se comportar como um bom menino no maternal

você finge bem

restringe bem

eu sei

cuidado

cuidado que quem muito fala se espanta

na própria mentira se estanca

e pode bem a espinha quebrar

a dança dos dráculas e touros

que sempre sempre é para quebrar os outros

pode acabar por se auto-sangrar

imagina

imagina uma coisa dessas

alguém que corta agora tenta

no fundo de si encontrar o que remendar

mas você não tem conteúdo interno

é como um santo oco

e venerado

rato

gato

as harpias hão de te lamber sempre

mas não mais

te verão contente.

Por Érika Nunes