Ao som de Caetano, Bianca se olhava no espelho. Fitava o contorno que seu cabelo fazia em suas bochechas agora coradas por conta do verão. Seus fios já também não eram mais tão escuros. As pedras azuladas que muitos diziam admirar pesavam para baixo com seus longos cílios. E assim ela continuava a encarar seu próprio rosto, seus próprios ombros, a alça do sutiã escapando pela blusa de algodão.
O silêncio daquela noite era como o da harmonia musicada em seus ouvidos. Ela não sabia qual emoção sentir naquele momento, se era alegria ou tristeza. Se era raiva ou euforia. Se era apenas um vazio. Se era plenitude.
Seu quarto permanecia com as luzes totalmente apagadas e a única luz que batia em seu rosto vinha provavelmente de um poste da rua lá fora. Ela observava a sua cama com toda aquela infinidade de almofadas e bichos de pelúcia, uma decoração talvez infantil para a sua idade. Ainda assim as emoções permaneciam confusas. Isso era bom ou ruim, ela se questionava.
Caetano deu lugar à Ana Carolina naquele instante, e Bianca pôde esboçar um pequeno sorriso finalmente. Não que houvesse uma preferência nem nada, mas aquele momento tão sozinho pedia por uma batida mais empolgante. Talvez fosse Bianca procurando uma saída, uma desculpa para não se encarar mais, mas quem disse que ela estava aí?
Quem disse que Bianca deveria se importar com suas paredes coloridas, seus quadros engraçados e seus bichos de pelúcia? Quem disse que seus olhos cheios de água eram um problema? Quem disse que seu sorriso não podia ser apenas um disfarce? Quem disse que ela não poderia reviver o seu passado?
Bianca disse.
Bianca fez tudo isso. Ficou sozinha. Acreditou. Chorou. Fugiu. Reviveu. Lembrou. E finalmente cansou. Bianca se esgotou. Porque o seu cabelo estava mais claro, suas pupilas mais dilatadas, sua pele mais bronzeada. Tinha ganhado uma ruguinha na testa, seu corpo estava mais magro. Seu sutiã estava mais desgastado também, e seus bichinhos de pelúcia estavam meio sujos.
Bianca havia mudado.
Suas coisas iam permanecer no mesmo lugar. Afinal, não foram elas que mudaram. Foi Bianca mesmo.
Gargalhadas tímidas ecoaram na noite de Tiê, ela queria aquela solidão. Ela queria um pouco de malandragem também. Ela sabia que não podia ter de tudo sempre, mas aquela noite era dela. Naquela noite, Bianca era Bianca. Mas alguns anos mais madura desde a última vez em que se encarou no espelho.
Um suspiro ecoou alto e preencheu o vazio. Tirou o sutiã velho por debaixo da blusa mesmo, era mais prático desse jeito. Fechou a cortina e deixou o escuro acolhedor tomar conta pelas oito horas seguintes.
Assim aguardou ansiosamente pela próxima harmonia. E disse adeus.
Por Júlia Bockmann
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