A dica que a Woo! Magazine traz hoje é sobre um assunto que costuma ser bastante obscuro quando se está começando no teatro, mais ainda para pessoas que não fazem teatro e, algumas vezes, até mesmo para aqueles atores que já tem uma certa estrada nas artes cênicas. Como decorar um texto? Obviamente que não é da noite para o dia que isso acontece, salvo algumas exceções como na realização de testes que exigem um tempo mais curto para a absorção do mesmo.
Existe uma receita mágica? Uma fórmula básica? Um jeitinho fácil de se fazer isso? Felizmente, a resposta mais razoável para essas e tantas outras perguntas nesse sentido é: Não, não há. Fazer teatro exige muito estudo, trabalho e dedicação. Não é da noite para o dia que se “nasce” um ator e, ao contrário do que muitos leigos imaginam, não é qualquer um que faz teatro justamente pela exigência, disciplina e entrega que as montagens precisam.
Primordialmente, todo o processo de ensaios, estudo detalhado e crítico do espetáculo, leituras e mais leituras do texto, estudo das falas, estudo dos personagens, exercícios de preparação corporal, entre outros trabalhos realizados em sala de ensaio, facilitam esse processo. Destrinchar cada pedacinho da dramaturgia, identificar o que está posto pelo autor e o que está nas entrelinhas são alguns dos facilitadores no processo de absorção dessas falas, além disso, faz-se necessário ainda um aprofundamento dessa pesquisa do ator fora da sala de ensaio. Buscando dentro e fora da dramaturgia, em estudos teóricos, laboratórios, entre outros caminhos e técnicas para construção do personagem e, consequentemente, absorção do texto. Sim o trabalho é árduo, mas incrivelmente engrandecedor e estimulante para os trabalhadores da arte.
Apesar de não haver uma mágica que faça o cérebro dos atores aprender as falas da noite para o dia, existem alguns “métodos” e “técnicas” que podem ajudar nesse trabalho. Seja proposto por teóricos das artes cênicas, ou adquiridos pela experiência empírica de cada ator consultado para a dica de hoje, deixamos aqui alguns caminhos que podem nortear e auxiliar seus estudos. São eles:
1- “Eu divido em blocos pela lógica da fala (uma lógica pessoal que me facilite), estudo o texto e naturalmente vou decorando… tem umas partes que eu preciso ficar repetindo e fazendo gestos para eu lembrar de falar. E eu sempre decoro o texto falando… se eu decorar mentalmente eu não consigo dizer ele.” (Ingrid Klug)
2- “Eu sempre decoro de olho nas deixas dos amigos, me ajuda a lembrar minhas próximas falas, e para mim é mais fácil decorar a ideia da fala, porque aí mesmo que eu não decore palavra por palavra igualzinho, a intenção do texto vai estar toda ali.” (Luiza César)
3- “Eu também preciso decorar ele falando e sempre já testando entonações, nunca totalmente frio. Sempre procuro entender antes também a lógica da ordem para ir organizando na cabeça. Algumas falas já vão de primeira, outras repito algumas vezes. Faço isso em blocos tipo: meia página e depois volto tudo, para então avançar mais um pouco. Vou repetindo isso. Minha memória também é muito fotográfica. Quando ainda não está totalmente decorado eu busco o texto lembrando de onde exatamente o trecho está na página. Sim, sou antigo, prefiro sempre imprimir e passar marca texto em tudo!” (Rafael Brits)
4- “Acho que o que mais me ajuda nisso é de fato ler primeiro e sacar uma lógica de fatos naquilo que estou dizendo. Mesmo que seja um texto que parece não ter causalidade (tipo um Valere Novarina da vida), eu vou lá e crio uma lógica na minha cabeça. A partir daí, fica muito mais fácil saber o que vem depois e não acontecer o famoso branco. Se eu não conseguir achar um sentido no texto, tenho branco mesmo. E, claro, quando quero decorar a risca palavra por palavra, eu escrevo a mão. O visual me ajuda muito! Acho que o branco surge disso, quando a gente perde a noção do que tá acontecendo ali… porque mesmo que você esqueça perfeitamente a sua fala, você saberia improvisar dentro da situação e não esquecer totalmente o que é para fazer. Estou dizendo daqueles brancos bizarros que você fica ‘ok, f*#@, o que faço agora?’ … e acontece.” (Bárbara Bárcia)
5- “Eu vou decorando frase por frase e aí, sempre que eu erro, eu volto do começo.” (Leo Bahia)
6- “Se for monólogo eu decoro falando frase a frase e acrescentando. Tipo “fui à feira comprar banana. Fui à feira comprar banana e maçã e por ai vai….” deu para entender? Se for diálogo é imprescindível que eu decore falando com meus parceiros de cena.” (Maíra Garrido)
7- “Eu decoro no ensaio batendo texto, e vou falando as falas de maneira resumida e, cada vez que repito, vou tentando me aproximar mais a original. Em casa sozinho eu fico falando mil vezes até a frase entrar.” (Pedro Ruivo)
8- “Se for diálogo, eu preciso bater com alguém, se for monólogo, eu geralmente prefiro associar ao corpo, movimentos, ações…” (Isabela Quadros)
9- “Repetição da leitura do texto, em seguida redijo para fixar.” (Joaz Perez)
10- “Também vou decorando frase por frase, quando erro volto do início. Gosto de escrever o texto quando é monólogo, e de bater o texto quando é diálogo.” (Edmundo Vitor)
11- “Quando é diálogo e as frases são curtas, tenho que decorar o texto do amiguinho.” (Flora Menezes)
12- “Eu sempre escrevo num papel porque escrever me ajuda a decorar. E o posicionamento de cada frase no papel me ajuda a lembrar o que vem antes e o que vem depois.” (Maria Penna Firme)
13- “Pelo objetivo de cada frase e pelo objetivo da cena! E pela musicalidade e sonoridade das palavras.”(Roberta Monção)
14- “Se tiver que assimilar sozinha, gravo todas as falas, as minhas e as dos colegas pelo celular e ouço incansavelmente, inclusive na hora de dormir. Dormir ouvindo, acordar ouvindo me ajuda muito a fixar as falas e depois vou colocando as intenções e desenhando no próprio texto curvas dramáticas que acredito que a fala necessite, intenções fala a fala e por aí vai. Caso contrário, a melhor forma é fazendo na cena porque consigo associar movimentos e ações às falas o que facilita muito esse processo.” (Eu mesma – Adriana Dehoul)
Como nossa matéria estava ficando um pouco extensa, resolvemos dividi-la em duas partes para não cansar os nossos leitores. Esperamos que você esteja curtindo as dicas que trouxemos até aqui e continue acompanhando porque na próxima semana teremos mais algumas de atores, diretores e outros trabalhadores das artes cênicas. É sempre importante salientar que cada pessoa funciona de uma maneira e às vezes o que funciona perfeitamente para um, pode não ajudar em nada a outros, mas que a partir dessas dicas esperamos poder impulsionar sua busca de uma forma própria e pessoal de estudar e assimilar um texto.
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