A caracterização é uma técnica de modificação que o ator realiza através de maquiagem, próteses, acessórios e roupas, para alterar sua aparência no intuito de representar algum papel. Segundo o maquiador Ivon Mendes, a maquiagem compõe a dramaturgia visual do espetáculo juntamente com figurino, iluminação, cenário e movimentação de cena.
O que percebemos ao longo em muitas produções é que há uma preocupação constante de atores e diretores quanto a preparação desse ator nas formas física, vocal e emocionalmente falando, mas a visualidade desse personagem, muitas vezes, acaba exigindo algo além das possibilidades corporais daquele que o interpretará. Quando, por exemplo, um personagem é mais velho e será vivenciado, necessariamente, por um ator mais jovem ou vice-versa. Quando temos personagens mais caricatos, ou ainda quando a dramaturgia e encenação exigem personalidades não realistas, é através da arte do caracterizador que todos esses efeitos poderão ser criados e gerar os resultados necessários que influenciarão diretamente o trabalho em cena. É como se um alimentasse o trabalho do outro em uma sinergia que culmina na qualidade estética, crível ou fantasiosa da cena, do personagem e do espetáculo como um todo.
É claro que cada espetáculo pede uma infinidade de demandas específicas e tudo vai ser gerado a partir da definição da linguagem que se quer para a peça juntamente com a direção de arte que definirá paleta de cores e tantas outras questões em prol de se chegar ao resultado final esperado. Mas a maquiagem faz parte (ou deveria) do cotidiano dos atores, e mesmo em espetáculos que não exigem uma caracterização pesada de transformação com utilização de próteses e/ou de envelhecimento ou rejuvenescimento, utiliza-se uma maquiagem básica para tirar a oleosidade da pele dos atores, afim de evitar o brilho excessivo da pele que pode acabar levando a atenção do público para outros lugares que não a cena que esta sendo apresentada. Então, a não ser que o diretor necessite deste efeito, o ideal é ter esse cuidado na preparação antes de entrar em cena.
Visagismo: Mona Magalhães
Além desses benefícios, durante a realização da maquiagem, o ator acaba por voltar sua atenção para os detalhes da construção do seu personagem, auxilia no processo de concentração no momento presente e na retomada de tudo que vivenciou desse personagem em sala de ensaio. É trazer para seu “ritual de ator” mais esse artifício que o ajudará a retomar o papel diariamente. As vezes é um detalhe nesse trabalho que fará toda a diferença no jogo entre os atores, na fisicalidade do personagem, no impacto junto ao espectador, podendo inclusive somar na geração do movimento cômico ou dramático de acordo com a necessidade da peça, potencializando a interpretação, entre outras possibilidades que surgem a partir de seu uso.
Apesar de todas as vantagens que podem ser extraídas da caracterização, muitas vezes o que se percebe em determinadas produções é que pouca importância se dá e, por isso, esta acaba sendo a última a entrar na construção e composição de personagem, ou, no pior dos casos, nem mesmo chegará a ser utilizada. E nesse processo de não entendimento da força que tem a ferramenta, acabamos limitando, em certa instância, o potencial criativo do ator.
A feira de maravilhas do fantastico barao de munchausen
Visagismo: MOna Magalhães
A partir desse entendimento, a caracterização se apresenta como mais um caminho para o ator, na construção e criação de personagens. O artifício deixa de ser apenas um detalhe dispensável, como percebe-se em vários espetáculos teatrais, para tornar-se um dos elementos norteadores e consolidadores da base do seu personagem durante toda a história.
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