DJ Ahmet é uma ótima surpresa entre os vários filmes da seleção
A 49ª Mostra de Cinema de São Paulo teve seus momentos de leveza dignos de uma “sessão da tarde” com as exibições de “DJ Ahmet”, que, ao contrário das produções exibidas na programação vespertina da TV Globo, não vem dos Estados Unidos, mas sim da Macedônia. Ainda que falado em outro idioma, o longa dirigido por Georgi M. Unkovski carrega em sua essência todos os elementos característicos das comédias românticas açucaradas ou dos dramas suaves que Hollywood produziu nas últimas décadas — e que a juventude brasileira consumiu avidamente nas tardes dos anos 1990.

Premiado no Festival de Sundance, o filme narra um romance adolescente entre o introspectivo Ahmet e a bela e popular Aya, cujo casamento já foi arranjado por seus pais com o herdeiro de um empresário abastado. O amor improvável entre os dois floresce a partir do interesse mútuo pela música pop e eletrônica, que, além de uni-los, funciona como um símbolo de libertação frente às amarras religiosas e sociais da aldeia onde vivem.
Em outras palavras, substitui-se uma típica cidadezinha do interior dos EUA por uma vila macedônia, adiciona-se um humor inocente — especialmente protagonizado pelo irmão caçula de Ahmet — e obtém-se um exemplar encantador de cinema leve e acessível. No entanto, “DJ Ahmet” traz um elemento raramente explorado nas produções estadunidenses do gênero: a religião como barreira para a concretização do romance. A isso se soma a ambição dos pais, que desejam casar a filha com alguém financeiramente privilegiado — uma dinâmica que, embora localizada, ecoa o pano de fundo mercadológico de muitos relacionamentos retratados em filmes ao redor do mundo.

O que realmente se destaca na narrativa é a crítica aos códigos religiosos e sociais que regem aquela comunidade. Para subvertê-los, o filme aposta na ocidentalização do vilarejo — com músicas pop em inglês tocando em raves e computadores operando o sistema de som de uma antiga mesquita. O romance se desenvolve na balada de Shakira e sob o som da icônica tela de inicialização do Windows, que ecoa nos alto-falantes da torre da mesquita ao final de cada dia porque o responsável por ela tem dificuldades em lidar com o computador ligado ao sistema de som — uma gag recorrente que se revela espirituosa e eficaz ao longo da trama.
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Essas sequências, entre outras, conferem a “DJ Ahmet” um humor refinado, utilizado com inteligência para abordar questões relevantes. O desfecho agridoce evidencia a habilidade do filme em tratar com leveza situações que, em outras obras, seriam conduzidas com maior gravidade. Esse equilíbrio é um mérito considerável e faz do longa uma das gratas surpresas da 49ª Mostra de Cinema.
Este filme foi visto durante a 49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Vídeo: Divulgação/Films Boutique

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