O cinema brasileiro é criativo e diversificado, todos reconhecem isso, mas sempre se clama por algo que ainda falta à nossa cinematografia: mais filmes de gênero. Parece que Marco Dutra se cansou de ouvir esse apelo e decidiu incorporar todos os gêneros possíveis em “Enterre Seus Mortos”, transformando-o em uma amálgama nonsense e difícil de assistir. O filme abrange o terror de possessão demoníaca, a ficção científica representada pela fuga do planeta em foguetes, a partir do momento em que as crianças da Terra começam a apresentar uma síndrome não muito bem explicada. Além disso, há uma trama subjacente envolvendo um serial killer, elementos de Western e uma seita que deseja transformar as pessoas em algo semelhante a zumbis. Com isso, fazem-se referências a diversos filmes de Hollywood dos últimos quarenta anos.
As referências não são um problema, mas sim a ausência de identidade que o filme adquire ao dispersar-se em tantas direções. Na narrativa, Edgar Wilson (Selton Mello) é um coletor de animais mortos nas estradas da cidade fictícia de Abalurdes. Sempre introvertido, o homem carrega traumas do passado e tenta fugir com sua namorada, interpretada por Marjorie Estiano, em direção à capital. No entanto, uma série de eventos bizarros se interpõem em seus planos. Mello e Estiano se destacam em seus papeis, embora seus personagens sejam meras repetições de figuras perturbadas que o cinema já exauriu. O problema reside no roteiro e na direção de Dutra, que não conseguem cativar o espectador, seja por meio de uma narrativa envolvente ou de um clima de tensão bem elaborado. Tudo parece bastante vazio.
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Entretanto, se há um elemento que se sobressai no filme, é a excelente produção realizada pela RT Features, de Rodrigo Teixeira. Isso é alentador, uma vez que um filme que se propõe a brincar com elementos sobrenaturais precisa ser convincente, e “Enterre Seus Mortos” o é, de fato. Isso desde os inúmeros “bonecos” que representam os animais mortos, passando pelo sangue e vísceras deveras realistas e repulsivas, até os efeitos visuais decentes. A boa fotografia também se destaca, preenchendo os ambientes em que vive o peculiar protagonista com sombras e acentuando o vermelho mortal em cenas cruciais. No entanto, o cinema não se sustenta apenas em sua técnica, necessitando de um pouco da alma das pessoas envolvidas em sua concepção, o que, infelizmente, faltou no trabalho dos realizadores. É realmente uma pena, pois é possível notar que há um material interessante na obra que serviu como base, mas que não foi bem aproveitado.
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Filme assistido na 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo
Imagem em destaque: Divulgação
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