Larissa Estevam e Wying Yang lançaram recentemente o curta “Sozinho”, um dos vencedores do Edital Cultura Presente
Um jovem casal, estudante de produção cultural pelo IFRJ, Wying Yang e Larissa Estevam se destacaram recentemente ao passar no edital Cultura Presente com o curta-metragem “Sozinho”. O curta, é carregado de referências a dramas vividos por muitos durante o período de isolamento social e foi inteiramente gravado durante a quarentena.
A Woo! Magazine fez uma entrevista com esse casal talentoso falando sobre produção, dificuldades e inspirações. Confira abaixo como foi essa entrevista:
Dan Andrade: Larissa e Wying, vocês são estudantes de Produção Cultural e, já estão realizando produções próprias com a Decupando Produções, criada também por vocês. Então, nós gostaríamos de saber como vocês tiveram a ideia de criar a produtora, como se deu o processo de criação? E também como é produzir enquanto casal?
Larissa e Wying: A ideia de criar a produtora surgiu com a necessidade de ancorar meus filmes em uma marca. Quando eu fiz o Eremita, eu quis mostrar ele pro mundo. Então montei a minha produtora para seguir produzindo com ela. No ano seguinte veio a oportunidade de produzir mais um filme, o “Padre, pequei novamente”, que ainda não lançamos, foi onde tive a oportunidade de trabalhar a primeira vez com a Larissa. Ela foi minha assistente de direção e nos demos muito bem. Hoje como companheiros decidimos tocar a produtora juntos.
Produzir juntos é quase que natural para nós, parece clichê mas a gente realmente consegue se completar bem. Quando um escreve, o outro consegue captar a ideia e complementar o roteiro, cansei de acordar e ouvir uma ideia de roteiro que a Larissa teve e já começar a pensar em como seria gravado. Isso acontece muito, dela me dar a ideia e eu já ir pensando na decupagem das cenas que ainda nem estão escritas. E isso acaba refletindo no set, porque a gente já tem tudo pronto antes mesmo de escrever.
D. A.: Continuando falando sobre produção, como foi produzir o curta “Sozinho”, com todos os desafios para um curta produzido durante a quarentena? E quais outros desafios o coronavírus trouxe para os trabalhos de vocês?
L. e W.: Produzir o curta sozinho foi uma loucura. Nós temos a mania de fazer roteiro geralmente com sonhos, mas com esse foi totalmente diferente. O edital foi lançado e veio o desespero de “será que eu tenho algo ou será que eu consigo fazer algo?”, porque foi em um momento onde todos estavam com a cabeça pipocando por causa dessa pandemia, a TV só falava disso, a internet só falava disso e aí ficamos pensando, como vamos montar uma parada que fique maneira para todos quando só conseguimos pensar no vírus. Foi bem difícil, desde a etapa de criação até a de produção, ainda tinha o fato de que não dava para sair para gravar, não tinha os equipamentos necessários mas deu tudo certo no final, ainda bem.
Para nós produtores realizar um curta em um período assim é desafiador e muito gratificante, porque estamos em um momento crítico que atingiu muito o cenário cultural, fechando diversos lugares, cortando verba, cortando parcerias e ter surgido essa oportunidade foi uma forma eficaz de mostrar que mesmo com isso tudo, nós estamos aqui e vamos continuar.
D. A.: De onde surgiu a ideia para “Sozinho”?
L. e W.: Ficamos pensando muito sobre como estava sendo para todos passar por isso, muitas pessoas perderam seus familiares, perderam seus empregos e muitos que moram sozinhos mas tinha como trocar afetos, não teve mais esse refúgio. A ideia era fazer com que todos se identificassem do seu jeitinho, até mesmo aqueles que moram só com seu pet. Sozinho é isso, é a dor, é a paranoia de achar que tem mais gente em casa, é você aceitar o fato de que tem alguém ali e é você perder alguém especial na sua vida.
Acreditamos que conseguimos passar a mensagem proposta, recebemos muitos feedbacks bem bacanas, algumas críticas que absorvemos para não repetir nas produções futuras. Foi muito importante pra gente ver que o que pensamos estava realmente acontecendo, as pessoas estavam ali se identificando.
D. A.: Como foi para vocês passar no Edital Cultura Presente? E na opinião de vocês, qual é a importância de editais desse tipo, nesse momento tão difícil para a cultura?
L. e W.: É nosso primeiro edital, ficamos muito felizes mas foi uma loucura, literalmente pais de primeira viagem mas acho que conseguimos fazer um bom trabalho. Esse edital veio de grande ajuda, ter apoios assim ajudam o produtor a não desanimar e a conquistar o prato de cada dia. Nossa renda surge de projetos, festivais, surge de jobs e quando tudo isso acaba de repente é desesperador porque os boletos não acabam e você tem que dar seus pulos e se sustentar. Então contar com o auxílio de editais, parcerias, patrocínios são importantes e necessários nesse momento, tem que ser um ajudando ao outro.
D. A.: A produção independente no Brasil sofre por diversos fatores, que vão do financeiro a falta de reconhecimento do fazer artístico. Dessa forma, qual tem sido atualmente o principal desafio de vocês como jovens produtores, cineastas ou roteiristas?
L. e W.: Acreditamos que a falta de incentivo financeiro nos desmotiva muito, como jovens que estão tentando ingressar no meio cinematográfico. Se você não tem uma boa grana para investir em equipamentos, ou tem contatos para te dar indicações de jobs, acaba sendo mais difícil. Para nós, fazer cinema de guerrilha é o natural, é claro que gostaríamos de fazer filmes com os melhores equipamentos, mas nós conseguimos contar nossas histórias e isso é o que importa pra gente.
D. A.: A faculdade de produção cultural onde estudam fica localizada na Baixada Fluminense, em Nilópolis, cidade famosa pela Escola de Samba Beija-Flor. Contudo, sabemos que a baixada ainda é carente de investimentos na área da cultura. Como vocês percebem isso no entorno do local onde vocês estudam?
L. e W.: A baixada é um super polo cultural não aproveitado. Muitos projetos incríveis rolam por lá de forma independente. O cinema é muito explorado por aqui e não recebemos visibilidade. O próprio Instituto Federal é a prova disso, ter um curso de Bacharelado em Produção Cultural no meio da baixada da a visibilidade necessária. Muitas produções saem do campus e ganham vida fora dele, muitos projetos escritos durante as aulas são postos em prática depois. O edital Cultura Presente nas Redes ajudou muitos alunos quando direcionou parte da verba para produções da baixada fluminense, deu oportunidade para muita gente daqui produzir seus materiais e melhor, ser remunerado por isso.
D. A.: Vocês já possuem alguma previsão de trabalhos futuros com a Decupando Produções?
L. e W.: Já, sempre estamos pensando. Temos dois curtas guardados esperando editais, temos projetos escritos, roteiros escritos também, além de um projeto de lives no Instagram da produtora que está quase saindo do papel. Nosso plano é fazer com que a Decupando tenha mais público e que seja um público que goste do nosso trabalho.
D. A.: Para finalizar, conta pra gente onde a galera pode encontrar os trabalhos de vocês:
L. e W.: Estamos no Instagram, o @decupandoproducoes, lá a gente posta os cartazes dos filmes e todas as novidades sobre eles, e alguns projetos novos vão surgir por lá, fiquem ligados. Temos também o canal da produtora no YouTube, e vocês conseguem acessar todos os nossos trabalhos através desse link.
Confira abaixo o curta sozinho:
Imagens e vídeos: Divulgação/Decupando Produções/Ponto Cine
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