Turnê Tempo Rei traz todos os hits de Gilberto Gil e recebe convidados especiais
O gurufim — palavra que vem do quimbundo, língua de origem banta falada em Angola – carrega o significado de adeus ou despedida. A expressão ganhou novas dimensões dentro das tradições afro-brasileiras, especialmente no candomblé e na umbanda. Nessas religiões, o termo não se limita a uma simples despedida, mas se transforma em um ritual de passagem, um momento de reverência e de encaminhamento da alma para o plano espiritual.
A despedida de Gilberto Gil com a turnê Tempo Rei segue exatamente a estrutura do gurufim, reafirmando a visão ancestral de que não é um fim, mas uma transição para outra forma de existência. E deve ser celebrado. Uma celebração épica ao longo de três horas de show com canções icônicas e participações para lá de especiais.
Sucesso absoluto, esgotando ingressos por onde passou, a Tempo Rei ganhou mais duas datas no Rio de Janeiro, na Farmasi Arena. O show se iniciou com um certo atraso, é verdade, o que é recorrente em shows nacionais, que sabem que o brasileiro (sobretudo o carioca) sempre chega pontualmente 15 minutos atrasado. Mas já passavam quase quarenta minutos da hora marcada (20h) quando a banda se posicionou em cena, arrancando aplausos eufóricos e também de alívio após a longa espera.
Eis que uma câmera posicionada na saída do backstage mostra a chegada do Preto Velho da MPB, que dá um beijo em sua esposa Flora e toma a cena, precedido por pirotecnia da parte superior do palco montado na arena. A música de abertura, sugestiva, é Palco, clássico do álbum de 1981, “A Gente Precisa Ver o Luar”. A festa seguiu com Banda Um, do disco homônimo de 1982, e a faixa que dá nome à turnê, do álbum “Raça Humana”, de 1984.
Talvez por ser, provavelmente, seu último show na capital fluminense (pelo menos nesse formato), Gil estava bastante falante. Começou a se dirigir à plateia apenas depois da terceira música, agradecendo a presença em mais um encontro com ele e os músicos, tanto para os que o acompanham há pelo menos uns 45 anos quanto os que têm nessa última turnê sua primeira oportunidade de vê-lo. Era essa mistura de gerações que era vista pela arena. “Muito obrigado por estarem aqui conosco”, disse. E no decorrer da apresentação, além de desfiar todo um novelo de composições que marcaram a música brasileira, contava histórias relacionadas, e outras mais aleatórias, igualmente divertidas.

Cercado de familiares no palco (ele nunca escondeu o nepotismo de ninguém), Gil conta em sua banda de apoio com os filhos Bem Gil na guitarra, José Gil na bateria, Nara Gil no backing vocal, e João Gil no baixo, além da filha Nara, do neto João (filho de Nara) e da nora Mariá Pinkusfeld, também nos backing vocals. Nada surpreendente para quem já fez uma turnê com nada menos do que 26 familiares. Mas Gil também recebeu no palco convidados bastante especiais.
Os Paralamas do Sucesso fizeram uma participação na música A Novidade. Gil contou a saga para dar letra à melodia da única música que faltava para completar o disco “Selvagem?”, de 1986. Sem dúvida um dos momentos mais marcantes da turnê, ver Gil ao lado de Herbert Viana, Bi Ribeiro e João Barone executando esse clássico. Outra visita célebre foi a de Jorge Benjor, que tocou três músicas com o anfitrião: Filhos de Gandhi, Emoriô e Rei do Maracatu de Cyro Aguiar.
E também teve a neta Flor, que assumiu os vocais em Estrela no set acústico em que apareceram ainda Se Eu Quiser Falar Com Deus e Drão, música composta para a mãe de Preta Gil no momento da separação. A música acabou ganhando novo significado no momento emocionante em que Gil e Preta fizeram um dueto dias antes, na última apresentação dela antes de falecer. Nenhuma menção ou homenagem à filha foi feita no palco. Durante a música aparecia no telão imagens da ex-mulher quando eram casados e Preta e seu irmão ainda crianças.
Nenhum hit ficou de fora do show. Cálice foi o momento de lembrar os anos da censura da ditadura militar com Chico Buarque no telão contando a história da parceria, mas, para evitar polêmicas entre lados politicamente antagônicos (houve gritos de “sem anistia”), foi praticamente emendada em Back In Bahia. Não Chores Mais (No Woman, No Cry), Vamos Fugir, Expresso 2222, Andar Com Fé marcaram presença entre as obrigatórias.
Aquele Abraço anunciava o fim e foi seguida de Toda Menina Baiana, que fechou em definitivo a apresentação. A banda ainda permaneceu no palco executando Atrás do Trio Elétrico, para também se despedir. Sítio do Pica-Pau Amarelo no sistema de som com imagens de Gil se alternando com as de crianças em meio a folhas de árvores no telão foi a forma lúdica de encerrar uma impecável apresentação à altura do gigantismo de Gilberto Gil.
- Palco
- Banda Um
- Tempo Rei
- Eu Só Quero Um Xodó
- Eu Vim da Bahia
- Procissão
- Cálice
- Back In Bahia
- Refazenda
- Refavela
- Não Chores mais (No Woman, No Cry)
- Extra
- Vamos Fugir
- A Novidade (com Paralamas do Sucesso)
- Realce
- A Gente Precisa Ver o Luar
- Punk da Periferia
- A Paz (instrumental)
- Se Eu Quiser Falas Com Deus
- Drão
- Estrela (com Flor Gil)
- Esotérico
- Expresso 2222
- Andar Com Fé
- Filhos de Gandhi (com Jorge Benjor)
- Emoriô (com Jorge Benjor)
- Rei do Maracatu (com Jorge Benjor)
- Aquele Abraço
- Toda menina baiana
- Atrás do trio Elétrico (instrumental)
Imagem Destacada: Divulgação/Gil Tempo Rei (Fotografia: Cesar Monteiro/Woo! Magazone)
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