Goretti Ribeiro revela detalhes sobre a preparação de atores e o trabalho com o diretor do filme
Destaque no curta-metragem “Erva de Gato”, selecionado para o Festival do Rio 2023, a talentosa atriz paraense, Goretti Ribeiro, vem trilhando o seu caminho no cenário cinematográfico nacional e tem cativado o público com sua autenticidade e versatilidade.
Graduada da Escola de Teatro e Dança da UFPA, a atriz tem lutado por seu lugar no mercado, com uma série de papéis notáveis em seu portfólio, incluindo participações na novela “Terra e Paixão”, da Rede Globo, na terceira temporada da série “Arcanjo Renegado”, no longa-metragem “O Rio do Desejo”, entre outras.
Sem rodeios ou clichês, Goretti compartilha insights valiosos sobre sua trajetória em uma entrevista exclusiva e, ainda, nos leva aos bastidores do curta-metragem dirigido por Novíssimo Edgar, revelando as complexidades de interpretar a sua personagem no filme.
Entrevista com Goretti Ribeiro
Daniel Gravelli | Seu personagem em “Erva de Gato ” se envolve em uma viagem sobrenatural. Como você se preparou para interpretar esse papel e criar uma conexão com o público?
Goretti Ribeiro | Eu e o elenco todo tivemos a grata surpresa e presente de sermos preparados por Clayton Nascimento, um grande ator, preparador e dramaturgo. Clayton foi essencial para a construção de Clarisse, e dos outros personagens como um todo. Juntos criamos um universo onde essa personagem, que é uma mulher indígena Amazônica e que beira também uma espécie de entidade indígena, pudesse transitar facilmente entre o plano material e o espiritual. E isso foi importante para que o público pudesse entender de cara que Clarisse possui uma conexão espiritual com o divino. Fui aberta e desarmada para esse processo, a escuta recíproca entre eu e o preparador foi um condutor essencial para abrir os portais que precisávamos para concluir nosso trabalho. Os personagens que compõem esse elenco possuem características e personalidades muito fortes. E Clayton soube extrair com maestria cada ponto importante dessas personalidades. É notório ao assistir o filme! Acredito que todos estão muito felizes com o resultado.
D.G | O filme é uma representação fictícia do Brasil, porém não é difícil associarmos a nossa realidade atual. Como a dinâmica entre os personagens expõe essa situação e ainda reflete as diferenças regionais e culturais dentro do filme?
G.R | Os personagens que compõem esse enredo são muito distintos! Existe um colorismo primordial nesse elenco, o que reflete o Brasil que estamos buscando hoje. Em meio a cenas construídas como algo distópico, há muita coerência no que é dito nos textos e que reflete na nossa atualidade. Acho que foi muito bem pensado e elaborado tudo que envolve esse roteiro, diante das verdades que são ditas, existe ali uma leveza preciosa e precisa na fala de cada personagem.
D.G | O curta-metragem aborda temas complexos como identidade e missão. Com qual aspecto do filme você mais se identifica?
G.R | A minha personagem, como já falei, é da Amazônia e é indígena. Uma narrativa que é minha também, faz parte da minha identidade como cidadã brasileira. Me identifico muito com esse chamado, com essa retomada de minhas verdadeiras raízes e com essa missão de descolonizar o Brasil, tornando um país mais igualitário. Essa reparação histórica que está acontecendo hoje no Brasil, tá sendo muito necessária, é preciso se falar mais para que alcance todas as classes sociais.
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D.G | Você teve a oportunidade de trabalhar ao lado do diretor Novíssimo Edgar, que é conhecido por sua expressão autêntica em várias formas de arte. Como foi a colaboração com ele no set?
G.R | Edgar é um gênio nato! Já havia escutado falar muito do trabalho espetacular que ele faz. Quando fui aprovada pra fazer o filme, vibrei muito. Pois, fazer parte da realização do sonho de um grande artista como ele, é maravilhoso. A gente se entendeu de cara, Edgar é leve e sabe o quer no set, tem um olhar profundo das coisas, respeita o tempo do ator e nos deixa livre pra criar também. Apesar da pouca idade, ele possui uma inteligência profissional grandiosa, que permite que ele se aventure no que ele quiser.
D.G | A trilha sonora é uma parte fundamental do filme. Como a música afetou seu processo de atuação e sua imersão na história?
G.R | A gente só conheceu a trilha sonora original depois do filme pronto! A princípio, a gente ensaiou com músicas que improvisamos para o momento. Então, quando vi o filme com a trilha sonora original eu fiquei bastante emocionada com a impecabilidade que foi entregue. Estamos falando de Pupillo, né?! Grande músico, que tem muita estrada e possui muita propriedade no assunto. Acho que ele foi cirúrgico em todos os momentos de passada de cena, inclusive usando músicas fantásticas de Edgar para completar a obra. Ficou um escândalo!
D.G | “Erva de Gato” é um exemplo de cinema brasileiro independente. Quais são os desafios e recompensas de atuar em projetos desse tipo?
G.R | Bom, fazer cinema no Brasil em todos os aspectos já é um desafio! Portanto, a gente já entra ciente que precisamos ter muita responsabilidade, constância e vontade de fazer. O Cinema só dá certo se for no coletivo, todo mundo precisa vibrar na mesma intensidade. Caso o contrário, os desafios que podiam parecer invisíveis se tornam mais visíveis do que nunca. Mas tudo feito com amor, respeito e empatia, dificilmente não se colhe grandes frutos. Acredito muito em todas as forças braçais e mentais que envolvem esse filme. É um projeto de muita luz e autonomia. Tem tudo pra dar certo. Aliás, já deu!
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D.G | O filme apresenta um Brasil imaginário e surreal. Qual foi o maior desafio ao retratar esse cenário e torná-lo crível para o público?
G.R | Como falei acima, tivemos uma preparação muito aberta e livre para ambos os lados. Alguns diálogos entre os personagens tinham até um pouco de “formalidade” no texto, tivemos todo o cuidado ao interpretá-los. Alguns não precisaram ser ditos verbalmente, foram ditos com o corpo, nos olhares e nos gestos. É um filme rebuscado, fino e que possui informações cruciais nas entrelinhas. Os personagens são muito diversos, os figurinos que compõem são cheios de personalidades. Então, todo cuidado foi pouco para que nada pudesse roubar a mensagem que o filme tem pra passar para o público, que é o retrato de um Brasil que insiste em viver no passado, com argumentos e comportamentos atrozes, sem nenhum pudor.
D.G | Qual mensagem ou experiência você espera que o público leve consigo após assistir a “Erva de Gato”?
G.R | Acho que o filme deixa uma mensagem muito clara para o público, sobre desconstruir, retomar, descolonizar, respeitar, se abrir e aceitar o novo. O passado só se visita de vez em quando, o presente é o agora. Só se é possível fazer um futuro digno vivendo no agora, enquanto estivermos carregando as mazelas do passado como o preconceito, racismo, homofobia, xenofobia, e tudo que apodrece a alma, a gente não conseguirá evoluir verdadeiramente. É preciso estar atento e forte.
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D.G | Além deste projeto, quais são seus próximos passos na carreira e como esse filme contribui para o seu crescimento como artista?
G.R | O “Erva de Gato” chegou no momento certo, em que eu me vejo muito mais madura e segura na minha profissão. Junto dele vieram outros projetos que fiz no mesmo ano que rodei o erva e que foram de extrema importância para o meu crescimento como artista e pessoa. Portanto, está sendo um presente receber tudo isso junto. “Erva de Gato” estreou num festival que é considerado um dos mais importantes do Brasil, o Festival do Rio. Fez uma belíssima e importante apresentação, foi muito bem recebido pelo público. Nos trouxe mais convicção de que ele pode e deve ganhar o mundo, pois tem muito potencial pra isso.
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