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Crítica

Crítica: Erva de Gato

A história de “Erva de Gato” apresenta um país dividido em três regiões distintas após conflitos internos.

Imagem: Divulgação/Desconoliza Filmes

Segredos e Simbolismos revelam o lado instigante de “Erva de Gato”

Imagine um Brasil dividido, em meio a uma distopia que busca explorar a opressão que assola o momento, entrelaçado a situações sobrenaturais, no entanto, bastante realista e visualmente provocante. No atual cenário de conflitos políticos e religiosos que assolam nosso mundo, essa imaginação não parece tão complexa. E é nesse instante, que o curta-metragem “Erva de Gato”, dirigido por Novíssimo Edgar, surge como uma oportunidade de reflexão diante dessa peculiaridade.

A história de “Erva de Gato” apresenta um país dividido em três regiões distintas após conflitos internos. A metáfora dessa divisão é clara, ecoando os tempos atuais, em que a polarização política e a diversidade de crenças fragmentam nossa sociedade. O bolo mal cortado em três partes é um símbolo vívido dessa divisão, evocando a imagem de um país despedaçado.

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Imagem: Divulgação/Desconoliza Filmes

Numa casa situada no “Estado Autônomo”, um grupo de amigos se reúne para uma brincadeira aparentemente inofensiva. Porém, o que começa como diversão rapidamente se transforma em uma experiência sobrenatural, quando o espírito de um gato é despertado em um dos personagens. A partir desse momento, uma misteriosa missão os conduzirá a explorar territórios desconhecidos. É nesse instante que “Erva de Gato” encontra seu ponto crucial, o surreal corta com uma faca de dois gumes, podendo levar a estranheza e/ou a contemplação.

A produção do filme, liderada por Giulia Del Bel e Grace Passô, é notável por sua capacidade de criar um mundo distópico diferente e envolvente. Embora simplista em sua maioria, o filme é abundante nos detalhes. Cada cena é meticulosamente elaborada, adicionando uma camada de riqueza à narrativa e ao ambiente em que a história se desenrola.

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O roteiro, escrito por Novíssimo Edgar, aborda tópicos necessários, chega até ser envolvente em alguns momentos, mas não consegue sustentar a narrativa de forma consistente. Em alguns trechos, é reflexivo e profundo, levando o espectador a uma intensa apreciação. A atmosfera sufocante criada para a cena da banheira, por exemplo, repleta de relógios espalhados pela água, transformando-se na leveza de um rio cristalino, reflete a dualidade que vivemos, na qual a superfície e o tempo muitas vezes escondem realidades mais profundas. Essas metáforas são habilmente tecidas em alguns pontos da trama, tornando “Erva de Gato” uma experiência interessante e rica em simbolismo. Entretanto, em outros, deixa a desejar na construção dos personagens e no desenvolvimento da trama.

Imagem: Divulgação/Desconoliza Filmes

A direção de Novíssimo Edgar é uma estreia marcante, mostrando sua versatilidade e originalidade como diretor. Sua habilidade em mesclar diferentes estilos, indo de poético e contemplativo a cru, intimista e visceral, até o sobrenatural, é admirável. Sua escolha de linguagem gera sensações profundas e desperta o interesse do espectador em mergulhar na trama. No entanto, investir em uma direção cênica mais aprimorada e um trabalho mais dedicado com os atores poderiam elevar consideravelmente a qualidade da obra.

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O elenco, composto por nomes como Grace Passô, Ítalo Martins, Goretti Ribeiro e Giulia Del Bel, entrega atuações convincentes na maioria das cenas, embora ocasionalmente possam parecer excessivamente caricatas. A possibilidade de que essa caricatura seja intencional, refletindo o exagero presente na sociedade, mas percebido de maneira mais contida e intrínseca pela “personagem” que vive tal realidade, é digna de consideração. Nesse cenário, Grace Passô e Ítalo Martins se destacam, demonstrando uma notável química entre seus personagens.

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A direção de fotografia, concebida por Laryssa Machada, Leandro Realista e Rafael Szalai, é impressionante. A paleta com cores vibrantes nas passagens que emulam o fantástico, contrastada com tons mais fechados nas cenas internas da casa contribuem para a atmosfera visual do filme. 

Imagem: Divulgação/Desconoliza Filmes

A direção de arte de Eduardo Zambotto é minuciosa e oferece verossimilhança ao mundo distópico criado por Edgar. Além disso, a edição afiada, com pinceladas de não linearidade e flashbacks, juntamente com a trilha sonora de Pupillo, tornam o filme ainda mais envolvente. No entanto, é uma pena que alguns problemas de mixagem de som abafam as vozes dos personagens em certos momentos. 

“Erva de Gato” começa de forma impactante, mas perde um pouco de seu poder à medida que avança, deixando uma sensação de parar no meio do caminho, como se estivéssemos assistindo o episódio piloto de uma série. Todavia, ao mostrar de forma fantástica os desafios e complexidades que também assolam nosso mundo contemporâneo, a história guarda possibilidades infinitas e merece ser ampliada no futuro.

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Crítica: Erva de Gato
Sinopse
Numa casa situada no “Estado Autônomo”, um grupo de amigos se reúne para uma brincadeira aparentemente inofensiva. Porém, o que começa como diversão rapidamente se transforma em uma experiência sobrenatural, quando o espírito de um gato é despertado em um dos personagens.
Prós
Direção de Novíssimo Edgar
A fotografia e a atmosfera criada
A direção de Arte
Contras
A direção de atores
A construção de alguns personagens
A estrutura da narrativa
3
Nota
Written By

Daniel Gravelli é especialista em comunicação de alta performance, apaixonado pela arte e pelo seu potencial na conexão humana. É diretor, produtor, ator, roteirista, e acumula mais de 30 anos de experiência no mercado cultural. Adora cozinhar e descobrir novidades sobre o mundo.

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