Estreada por Bruno Mazzeo (filho de Chico Anysio) e Lúcio Mauro Filho (bom, o nome já diz) a peça “Gostava Mais dos Pais”, encerrou em 14 de Abril sua temporada de muito sucesso no Teatro Porto Seguro em São Paulo, capital.
Herdeiros de dois dos maiores baluartes do humor nacional, que por décadas alegraram milhões de brasileiros, Bruno e Lúcio, amigos e também com décadas de carreira (e olha que não chegaram nem aos 50), criaram um espetáculo que eventualmente fala do legados dos pais, do peso que os nomes trazem. Construída, em grande parte, pelo contraste do que era um artista/humorista no século 20 (que nem faz tanto tempo assim) e no século 21, no qual não há tanta necessidade de ter presença de palco, estudar muito um texto de piadas e muito menos se desgastar indo em diversos veículos de comunicação, “montados no look”, para promover seus shows, a produção é um deleite, rende boas risadas e gera algumas reflexões.
A maioria dos artistas hoje, pode se promover fazendo um vídeo rápido, divertido na sua própria casa (“Balança Sua Raba”, vídeo “Instragamável” e número impagável que abre a peça que o diga).
É só ter a “sorte” de bombar em meio aos muitos algoritmos das redes sociais!
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As aspas no texto existem com razão, e trata dos muitos termos usados pelos dois artistas e alguns convidados, durante todo espetáculo, para num texto inteligente, leve e divertido falar, e se posicionar, sobre o estado das coisas. O ser e o estar artista nesses tempos em que qualquer pessoa de forma democrática, pode e deve fazer humor, e ser promovido à estrela ou astro nacional, ao alcance das teclas do seu celular.
As ideias e os diversos exemplos estão por aí em todas as redes sociais que se imaginar, que ainda serão criadas, e a cada milhão de visualizações nasce um novo estouro de humor que viraliza e vai parar nos celulares e bocas dos brasileiros.
Mas e quem já está aí há anos, décadas, faz sentido bolar dancinhas, dar um tapa no visual, mudar seu próprio jeito de ser, de atuar, de se portar para ser relevante?!
São os dilemas que a peça traz sem perder o senso de humor e sem dar respostas fáceis, dependendo única e exclusivamente dos dois craques no palco. Mais do que entrosados, Lúcio e Bruno exibem o que se espera das suas personas nos diversos veículos que tem percorrido em todos esses anos de carreira.
Uma dupla perfeita e complementa, que da forma mais engraçada possível mostra que hoje mais do que nunca o humor é necessário, pois o popular faz o povo pensar – a não ser, claro, que não se queira.
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A peça também aborda o exagero da cultura do cancelamento de forma hilária e ácida, na cena em que um dos atores está em um restaurante, e um simples pedido se torna um martírio de mal entendidos, explicitando a que ponto chegamos em termos da falta de comunicação, entendimento e do quanto perdemos ao não ouvirmos o outro.
Há espaço para outra “estrela” das redes sociais: as famosas e indefectíveis fakenews, em que são vendidas por atacado e impressionam pela esperteza dos atores no contexto em que são colocadas.
É um show de dois homens em um palco com cenografia bem econômica para que toda atenção se remeta às interpretações, sacadas, gestos e sutilezas dos atores que interagem constantemente com o público – que está, claramente, se divertindo.
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As luzes são quase que naturais e os objetos cênicos são bem parcos. Resumindo-se a 2 cadeiras, quando muito, a não ser quando a esperada e aguardada homenagem ao legado dos pais é encenada. Nesse momento, o simples dá lugar a bastante adereços e maquiagem dos atores em que Bruno Mazzeo é impressionante, quase mediúnico, interpretando um dos mais de 100 personagens que o grande Chico Anysio criou. Já Lúcio é mais discreto, se limitando a imitar a voz e os trejeitos do pai.
E por fim, há uma homenagem lindíssima a todos os humoristas que fizeram, junto aos brasileiros do século 20, a história do país e abriram as portas para os que estão chegando agora, pedindo passagem. Afinal, como Bruno e Lúcio proferiram no encerramento, a arte e cultura tem que ser para todos e poucos bálsamos se comparam ao riso.
Imagem: Reprodução/Expressão Piccolo (Crédito: Pedro Miceli)
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