Vinte anos após seu fim, clássico da TV estadunidense segue atraindo as novas gerações e tem algo para contar sobre nós mesmas
“Sex and the City” se provou atemporal! A série, que teve sua estreia em 1998, voltou a viralizar no Brasil, atingindo um público geracional novo. A obra trabalha com um imaginário comum sobre amizade entre mulheres, sendo deliciosa de assistir e de se identificar com situações cotidianas. Carrie, a personagem principal, é colunista em um jornal e escreve sobre relacionamentos, sendo assim, a série aborda essa temática, trazendo questões como a busca por uma construção familiar, criação de vínculos amorosos e amizade.
A história não se baseia apenas em falar sobre relacionamentos amorosos, ela também trabalha a relação de amizade entre as quatro amigas inseparáveis, mas abre uma discussão sobre como enxergamos relacionamentos em nossas vidas, e como isso é construído socialmente para se tornar um destino focal. A cobrança pelo relacionamento perfeito, heteronormativo é tão grande que se impõe como uma das únicas alternativas de uma vida perfeita e feliz após os 30 anos.
Leia Mais: Crítica: And just like that… (Sex And The City)
Pensando sobre construções de personagens, Miranda enfrenta um dilema grande ao se relacionar com Steve e engravidar. Ela se torna algo que nunca imaginou ser: mãe. Embora seja uma maternidade “fora do comum” (para os parâmetros da época) por não abrir mão do seu trabalho e nem estar casada com Steve, a personagem começa a realizar concessões que anteriormente não faria. Ela se torna mais flexível com seu horário de trabalho e vai percebendo aos poucos que está apaixonada por seu ex-romance. Sendo assim, Miranda decide reatar com Steve e casar, mesmo tendo sido construída no decorrer da série como alguém que não gostava de cerimônias de casamento, e nem da ideia de dividir uma casa. Inclusive, ambos se mudam do apartamento, no centro de Nova York, para morar no Brooklyn, em uma casa grande que seu parceiro escolheu.
Seguindo a linha de raciocínio, a personagem que é mais julgada em seu núcleo de amigas, é a Samantha. Uma mulher com liberdade sexual, que não deseja relacionamentos longos e vínculos afetivos romanticos, que confronta a heteronormatividade e, inclusive é bissexual. Ela é criticada por suas amigas por priorizar o trabalho e o próprio prazer, sendo posta em cena muitas vezes como alívio cômico, e somente devidamente desenvolvida quando inicia seus relacionamentos mais longínquos, e quando adoece com câncer de mama.
Obviamente que podemos sonhar em construir uma família, ou mudarmos de opinião quantas vezes forem necessárias sobre o assunto, mas o que a série de fato retrata não seria exatamente o que a sociedade espera de nós? A série finaliza com todas as personagens envolvidas com pares românticos e, agora de fato felizes. O que isso quer dizer implicitamente?
Mesmo com tudo isso, com todas as questões de choque cultural, afinal é uma série lançada em 1998, ela ainda consegue se conectar com mulheres jovens atuais. Ou seja, ainda se identificam com a dinâmica de amizade entre elas e com as temáticas discutidas. Eu amei a série, gargalhei do início ao fim, mas pude refletir também sobre o quanto estou cansada de pensar tanto em relacionamentos. Quanto tempo destinamos da nossa vida conversando ou pensando sobre como agradar fulanos? Quantas conversas com amigas foram praticamente inteiras sobre isso? Quantas cartas de tarô foram tiradas para entender melhor sobre nossos amores?
Enquanto isso, homens possuem espaço em suas vidas para iniciar hobbies, falar sobre mil assuntos, se entreter com vídeos no youtube, jogar videogame, praticar um esporte novo. Hábitos saudáveis que deveríamos ser estimuladas a fazer desde a infância e que não somos! Somos fruto de uma criação, não apenas parental, mas cultural, em que aprendemos a ser pacificadoras, ouvintes, resolutivas e salvadoras de relacionamentos fadados ao fracasso. Colocar mulheres nessa posição é uma agressão a sua capacidade de ser.
O problema, obviamente, não é “Sex and the City”, até porque a série é maravilhosa! Mas cabe a reflexão sobre o estímulo à nossa solitude, sobre a felicidade em estar só. Construir uma boa relação consigo mesma é a chave para o entendimento do que queremos e do que merecemos.
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.
Sem comentários! Seja o primeiro.