“Quando alguém conta uma história, eles criam um mundo novo”
Inspirado na obra original de Cricket Johnson, “Harold e o lápis mágico” funciona como uma espécie de homenagem ao autor que desenhou o garoto capaz de dar vida a sua fértil imaginação. No filme, não acompanhamos um garoto, mas o adulto (e altamente infantilizado) Harold interpretado por Zack Levi. Ele sai do mundo criado por seu escritor e invade o mundo real a procura do mesmo, acompanhado de seu giz de cera roxo e seus amigos metamorfos.
Como pode ter percebido, o filme possui uma pegada a lá “Barbie”. O personagem é consciente de que é somente um personagem, e que existe um mundo real. E ele prossegue por muito tempo da mesma forma do que o filme de Greta Gerwig… mas de forma bem mais direta. O filme começa com uma sequência de animação ótima, uma qualidade já esperada do diretor brasileiro Carlos Saldanha, responsável por “Robôs” e o badalado “Rio”.
Mas o ritmo tanto dessa sequência quanto do primeiro ato é extremamente acelerado: esses são os personagens, essa é a problemática e esses são os obstáculos. O quê, para um filme que em essência era pra ser algo simples, se complica de mais. A história de um personagem em busca de seu criador que, no mundo real, não está vivo desde 1975, pode vir a ser extremamente complexa. E esse enredo afoga o mais importante do filme: a mágica do lápis.
E logo na primeira parte, fica claro que o filme se mostra extremamente datado. Além da estrutura da narrativa, a cinematografia e as performances se mostram saídas das produções feitas diretamente para a televisão. Ou seja, é um filme com uma estética voltada para algo como uma ‘sessão da tarde’.
“Harold e o Lápis Mágico” não entendem o quê faz a obra original ser interessante
E se voltando para as performances, Zack Levi e todos os outros atores parecem estar interpretando variações do mesmo personagem: adultos infantilizados. Até mesmo os adultos que não saíram do mundo de Harold possuem zero apego ou noção da realidade. Por quê não colocar, ao invés de um pouco carismático ex-Shazam, não se debruçar em colocar um personagem infantil para protagonizar o filme, mais alinhado ao Harold original?
Agora, não posso dizer que as crianças não irão se divertir com o filme, loucas atrás de lápis e papel. Assisti ao longa durante uma pré-estreia, e após a sessão, todas as crianças que estavam na sala estavam dançando alegres e fingindo desenhar o que quer que quisessem no ar. A ideia de um lápis capaz de criar qualquer coisa é perfeita para o público infantil, mas ao invés de um filme metatextual sobre o ato de criar, por que não se manter no que o próprio filme mostrou nos primeiros 10 minutos de filme? Uma animação linda com uma palheta de cores roxeada e personagens divertidos? Com certeza, seria uma homenagem muito mais alegre para o autor Cricket Johnson.
O grande problema do filme é se complicar demais em uma linha narrativa que não chega a lugar algum. A busca pelo autor, a complicação de uma mãe viúva, a história ruim de um bibliotecário maluco… São muitas linhas que se conectam de forma esquisita e que limitam o que o filme poderia vir a ser.
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