O cenário político da Alemanha no segundo pós-guerra era conflituoso. Dividida pele emblemática Guerra Fria, tinha seu território definido em duas grandes correntes totalmente contrárias. De um lado, controlado pelos norte-americanos, de outro pelos soviéticos.
Apesar de tardio, o movimento cinemanovista alemão foi duradouro e um dos que mais atraiu a curiosidade internacional. Em busca de promover um cinema nacional motivado culturalmente e economicamente viável, o Cinema Novo alemão conta com diversas fases e diferentes propostas estéticas.
Cinema este que emergiu a partir do “Manifesto de Oberhausen”, assinado por diretores como Edgar Reitz, Werner Herzog e Alexander Kluge (“Trabalho ocasional de uma escrava”, 1973), que visava demarcar novos campos estéticos e ideológicos para a produção cinematográfica alemã. Inspirado em movimentos como a Nouvelle Vague francesa, os 26 signatários do manifesto acreditavam que o futuro do cinema alemão se daria a partir de uma nova linguagem cinematográfica, que seria instaurada por eles e queriam libertar-se das convenções cinematográficas e influências comerciais.
Muitos de seus nomes eram jovens e tinham pouca experiência em cinema durante a década de 1970; seguiam rumo ao controle completo do diretor sobre seu filme e à adoção de novas tecnologias portáteis e equipes de filmagem mais enxutas; além de receberem influências, positivas e negativas, do cinema americano, tanto do clássico quanto do novo.
O cinema radical que esse movimento propunha era em reação contra as velhas e desacreditadas obras comprometidas com o nazismo e de caráter comercial que antes dominava o cinema alemão. Esses tipos de filmes eram chamados de “Heimat”, com temas que agradariam as famílias, com conteúdos insossos.
Os filmes criticavam uma mídia invasiva como “A honra perdida de Katharina Blum” (1975) de Margarethe von Trotta e Volker Schlöndorff; e também o fato de evitarem a condenação direta aos colaboradores do nazismo, como em “Alemanha, mãe pálida” (1980) de Helma Sanders-Brahms.
Outro grande nome do Cinema Novo alemão é Rainer Fassbinder. Em sua obra, “As lágrimas amargas de Petra Von Kant” (1972) o diretor afasta-se das figuras marginais para analisar a pequena burguesia alemã, explorando situações melodramáticas. Sua obra tem forte relação com o teatro, uma vez que antes do cinema, o diretor já trabalhava nos palcos e transpôs muito das características teatrais para seus filmes.
No começo dos anos 1970, o governo começou a fornecer mais subsídios para o cinema, o que possibilitou um alcance maior do mercado. Existia ainda a parceria com canais de televisão, grande incentivo para a produção não apenas de ficção, mas também de documentários. Essas condições ofertadas pelo governo, não impediam que os cineastas tivessem liberdade de expressão e representação em suas obras.
Essa liberdade criativa, juntamente com a parceria com a televisão, foi característica importante desse cinema que nunca seguiu uma escola única e teve tantas facetas baseadas no estilo próprio de cada diretor.
O ano de 1977 é onde se dá o auge (um expressivo número de filmes realizados) e o declínio do Cinema Novo alemão. Neste ano o país foi alvo de diversos ataques terroristas, o que fez com que o cenário social e político do país, que ainda lidava com as reminiscências do regime nazista, ficasse ainda mais conturbado.
Fassbinder morre precocemente, em 1982. Diretores importantes começaram a deixar seu país e muitos deles migraram para a América do Norte. É o fim do Cinema Novo Alemão.
Por Letícia Vilela
(Referência Bibliográfica: CÁNEPA, Laura Loguercio. Cinema Novo alemão. In: MASCARELLO, Fernando (org.). História do Cinema Mundial. Campinas, São Paulo: Papirus, 2006.)
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