Banda australiana volta ao Brasil depois de 26 anos com hits e novidades
Já passava da metade do show e o clima era de perfeita harmonia no meio da pista – como tinha gente se abraçando, inclusive em grupo – e também entre a plateia e o palco. Nem parecia que se passaram 26 anos. O retorno do publico era tamanho que o vocalista e líder do Hoodoo Gurus, David Faulkner, não se contém e diz em um português bastante digno para quem ficou tanto tempo longe: “Eu amo o Brasil, e mais o Rio”.
O HG é uma banda australiana que, por ter sido abraçada pelos surfistas por aqui no final dos anos 80 e início dos 90, tem seu estilo musical rotulado como surf music, junto a conterrâneos e contemporâneos como o Australian Crawl, o Spy Vs Spy e o Gang Gajang. Ainda que as músicas não abordem nenhuma temática de surf. Esses conjuntos tiveram bastante repercussão no Brasil levando à criação de uma iniciativa chamada Australian Connection, para trazê-las em meados da década de 90. Em uma época que já não gozavam do auge do sucesso na terra natal, aqui eram tratadas como elite do rock internacional.
Isso explica a horda de “jovens coroas” na casa dos 40/50 anos que compareceu na sexta-feira (14) ao Qualistage, no Rio do Janeiro, onde os expoentes da chamada surf music australiana tem o público mais cativo. Cabeças grisalhas e/ou experimentando uma diminuição da densidade capilar dominavam a casa de shows na Barra da Tijuca. Era realmente difícil encontrar alguém com menos de 30 anos, ainda mais sem a companhia de algum familiar veterano. E foram todos presenteados com um show impecável.
Após a apresentação feita por Ricardo Chantilly, o produtor e idealizador do Australian Connection e responsável pelo retorno do Hoodoo Gurus ao Brasil, a banda entrou no palco apostando corajosamente em uma música do álbum Chariot of the Gods, de 2022, a faixa World of Pain, que, apesar de desconhecida para a maioria, foi bem recebida pelo público. Uma boa estratégia, apresentar uma composição recente logo de cara aproveitando o entusiasmo da plateia com o início do show.
E foi do baú que saiu a segunda música da noite, Another World, de 1989. Mantendo o setlist na fase áurea, o vocalista, em português, deu boas vindas de volta para quem já assistira a um show da banda no Brasil, e para os que estavam tendo sua primeira vez, “The Right Time”, dando a deixa para a faixa que leva esse nome. Ela foi seguida de uma grata surpresa da noite, The Other Side of Paradise, faixa do álbum Mars Needs Guitars, de 1985 (e uma das favoritas desse que vos escreve). Não costuma constar nos repertórios regulares e foi tocada pela primeira vez no Brasil.
Ao contrário das apresentações de 1995 e 1997, que concentravam o repertório nos discos Blow Your Cool (1987), Magnum Cum Louder (1989) e Kinky (1991), o auge da banda, esse aqui propôs um passeio pela discografia. E o álbum que recebeu destaque foi Stoneage Romeos (1984), debut do HG, com quatro músicas no total, mesmo número de Chariot. Leilane, a ramônica Tojo (que Faulkner introduziu revelando que a escreveu com 22 anos) e o hit I Want You Back, além da mais lado b I Was a Kamikaze Pilot foram um deleite para os fãs que apreciam essa fase inicial e mais crua da banda.
Houve também duas de Blue Cave, o trabalho que eles divulgavam da última vez que vieram ao Brasil. Night Must Fall e If Only… tiveram boa rotatividade nas rádios e parecia que o público não esqueceu delas, recebendo-as de forma até mais calorosa do que no show de 97.
E, claro, não poderiam faltar as essenciais What’s My Scene, Bittersweet e o sucesso absoluto Out That Door, o ponto mais catártico do show. O sucesso perene do clássico, cantado a plenos pulmões pela plateia, faz os desavisados duvidarem que a faixa é o maior hit da banda apenas no Brasil.
Come Anytime e o hino 1000 Miles Away vieram no bis, que teve Wipeout encerrando a noite. Fãs com alma lavada não só por ver a banda depois de mais de duas décadas e meia, mas também por constatar que, embora veteranos, estão em plena forma, fazendo um show tão (ou mais) energético quanto os dos anos 90, que aconteceram ali mesmo, quando ainda se chamava Metropolitan. O novo baterista, Nik Rieth (que entrou em 2015), está plenamente integrado, mantendo a eficácia da cozinha com Richard Grossman, e a química entre as guitarras de Faulkner e Brad Shepperd é imbatível após quarenta anos tocando juntos. Para guardar na memória.
Setlist:
- World of Pain
- Another World
- The Right Time
- The Other Side of Paradise
- I Was the One
- Leilani
- Answered Prayers
- Night Must Fall
- Tojo
- If Only…
- Chariot of the Gods
- I Want You Back
- Poison Pen
- Equinox
- Castles in the Air
- Out That Door
- What’s My Scene
- Bittersweet
- I Was a Kamikaze Pilot
Bis:
- Come Anytime
- 1000 Miles Away
- Like Wow – Wipeout
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