Aos 94 anos e em plena forma artística, Clint nos brinda com um excelente filme de tribunal em “Jurado Nº 2”
Imagine a situação: um homem, ex-alcoólatra, restabeleceu sua vida com sua esposa nos últimos períodos de uma gravidez de risco e, de repente, é chamado para ser jurado em um julgamento de um possível feminicídio perpetrado pelo amigo, constantemente envolvido em situações e testemunhos de violência contra a vítima.
No filme “Jurado nº 2” de 2024, disponível no streaming da Max, dirigido pelo prolífico e lendário Clint Eastwood, à medida que os fatos vão sendo discorridos, esse jurado convocado a contra gosto, pois quer acompanhar sua esposa na gravidez, começa a lembrar de uma noite em que quase fraquejou ao vício e, ao ir embora na chuva torrencial que caía na cidade, por acidente ele atropelou algo ou alguém que a escuridão não lhe permitiu distinguir o que era, seguiu seu caminho e nunca mais pensou no assunto.
Mas de repente, meses depois, como jurado no julgamento é informado que a vítima sofreu um atropelamento com fuga na noite e horário em que ele esteve no mesmo bar em que o casal foi visto brigando, e o acusado saiu de carro quase ao mesmo momento que ele.
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Esse acusado, preso já há alguns meses, se recusa a declarar-se culpado e não quer fazer acordo para redução de pena, oferecido pelo seu diligente advogado público, interpretando alguém convicto da inocência do seu cliente, Chris Messina, mesmo que não haja nada além da convicção do acusado de ser inocente.
Você vai poder tirar suas conclusões sobre as escolhas perto do impossível que os personagens desse filme têm que fazer, escolhas essas que podem levar a prisão ou liberdade, verdade ou mentira e, claro, à culpa e arrependimento, conforme o trailer logo abaixo.
O renomado diretor Clint Eastwood passa com sutileza, classe e elegância por esse drama exclusivamente humano sem recursos melodramáticos nem arroubos de epifania, pois filma a vida como se é, sem sobressaltos, atos pouco altruístas e elevado senso de autopreservação dos seres humanos.
Não que Clint seja um pessimista, pelo contrário: ao erguer uma crítica a um sistema de justiça falho — e acreditem o dos Estados Unidos o é — ele joga uma luz sobre as pessoas, suas escolhas, medos e processos que podem livrar um homem branco padrão de uma situação penal onde um dos jurados diz literalmente a frase: “imagina se iriam demorar tanto para julgar esse caso se fosse um homem negro”, bem como pelo preconceito e vontade de fazer justiça pelo júri sobre acusação de um homem reincidente em caso de agressão à vítima, a qual seus parentes e a sociedade demandam e com razão, justiça a qualquer preço.
E é na intepretação minimalista, perplexa e cheia de nuances de Nicholas Hoult (“Nosferatu” de 2024 e o Lex Luthor do vindouro “Superman” de James Gunn), que se percebe toda preocupação sobre o desenrolar desse julgamento, suas consequências e o futuro da sua família.
Com extrema perícia e às vezes malícia, seu personagem vai manipulando os jurados de acordo com seu interesse na história e caminhando em uma fina corda bamba de decepções e adrenalina que fazem jus aos melhores filmes de tribunal já vistos.
A referência mais óbvia é “Doze Homens e Uma Sentença”, 1957 de Sidney Lumet, filme clássico egresso de um argumento de uma peça do teatro em que a dúvida sobre a condenação de um jovem porto riquenho, gera atrito no corpo de jurados por conta de um homem que levanta questões que os outros não perceberam e defende seu ponto de vista até o fim, pois sabe o que está em jogo.
Em Jurado nº 2 temos, como no clássico, um time de jurados eclético e de personalidades diversas, não tão decisivos, pois o foco não é nesses personagens e sim no dilema moral de um único jurado, mas que, de certa forma, acrescentam força à narrativa: o acusador sem paciência e que quer a punição de qualquer forma, o desinteressado que só quer prestar seu serviço público e ir embora, a pessoa experiente que sabe como conduzir um júri e se coloca como o porta voz de todos, a dona de casa que, tal como o acusador, acredita que o caso é de fácil condenação e quer uma decisão rápida para voltar aos seus filhos, a técnica em perícia também começa a perceber furos na narrativa e o policial veterano, papel de J.K. Simmons, aproveitado timidamente, que usa seus instintos para analisar o acusado e pode trazer mais do que sua experiência ao caso.
Ou seja: personagens no limite do funcional para a trama e todos, em menor ou maior grau, enredados na teia do jurado nº 2, com interesses além dos altruístas nesse julgamento em particular.
No registro de interpretação é preciso destacar também a brilhante interpretação de Toni Collete como a promotora do caso em busca de uma vitória fácil, que seria o último passo para ingressar em uma carreira política de sucesso, a princípio com certezas e, conforme o julgamento avança e baseada em provocações que vão surgindo, começa ela mesma a ter dúvidas, sendo levada a fazer escolhas além do seu interesse, com uma variada gama de emoções demonstradas ao longo do filme.
Firme, mas sublime.
Temos também Kiefer Sutherland (o Jack Bauer de “24 Horas”), num raro e prazeroso registro discreto e conciliador, longe da intensidade de suas interpretações usuais, que no limite nos serve como guia jurídico das consequências do julgamento e da reviravolta que se estabelece na trama.
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Não há um minuto perdido na filmagem, nem espaço para digressões, é um cinema direto, em cheio, que Clint Eastwood no brinda mais uma vez como mestre no seu ofício, que infelizmente pode ser seu último filme e, por decisão do estúdio Warner, foi lançado em poucas salas nos Estados Unidos, preferencialmente no streaming da Max em diversos mercados internacionais, mesmo ele demostrando através de décadas o quanto seu cinema calcado na humanidade é necessário, inclusive no estado atual das coisas.
Se você achar o final ambíguo, não é, pois tudo para compreensão das consequências foi lançado nas cenas desse grande filme de 2024, dirigido por um dos últimos de seus pares.
Imagem Destacada: Divulgação/Max
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