Amadurecimento na poesia da Sad Girl + Pablo Picasso
Você não pode encher seus cadernos com poemas russos e ser feliz
Já sabemos que Lana Del Rey conta histórias em suas letras, muitas vezes incorporando personagens em seu eu lírico, junto de um projeto estético muito definido em cada fase de sua carreira. Na faixa título Blue Banisters, Lana fala sobre a espera por um homem que viria pintar seus corrimões, o que não acontece e ela mesma acaba por pintar os corrimões com ajuda das irmãs. “Há um buraco no meu coração / Todas as minhas mulheres tentam e curam”. Tem-se um afastamento da figura dependente emocionalmente de figuras masculinas e ajuda de um sistema de apoio por mulheres.
“Você não pode ser uma musa / E ser feliz também / Você não pode encher seus cadernos com poesia russa / E ser feliz”
Como musa, ela teria que atingir uma expectativa. Esse verso se relaciona com outra de Text Book: “Você sabe que não sou aquela garota e nunca serei”.
A primeira faixa, Text book, ou seja “a definição de”, onde ela se descreve como Daddy Issues, ou problemas com o pai, por gostar de caras mais velhos, romantizar relacionamentos sugar… “Eu estava procurando por um pai que eu queria de volta”. Essa história fala sobre uma mulher tentando ter o relacionamento idealizado que gostaria de ter com o pai, como se pudesse curar as feridas através deste outro relacionamento. Musicalmente, sentimos a crueza que virá pela frente ao longo do álbum. Afastada das melodias comerciais de seus primeiros sucessos, a artista dá foco ao uso de vozes e destaque aos versos, que parecem trazer poemas musicados. Essa escolha artística lembra a proposta de Leonard Cohen, por exemplo.
Apesar de trazer músicas produzidas em diferentes períodos, o álbum não é uma colcha de retalhos, mas, sim, traz elementos de outras fases de sua carreira, como Interlude – The Trio, que resgata a atmosfera de West Coast, usando um sampler do compositor Ennio Morricone, do filme clássico The Good, The Bad and The Ugly, com beats de trap ao fundo.
O azul de Lana Del Rey
Lana sempre utilizou a cor azul em suas letras. Dessa vez, em Beautiful, a cantora fala sobre Pablo Picasso e sua fase azul: “E se alguém tivesse pedido pro Picasso não ser triste? / Não haveria o Período Azul”. A fase azul de Picasso, além dos tons de azul, apresenta figuras marginais da sociedade, como prostitutas, moradores de rua e bêbados. E então diz “I can turn blue into something beautiful” o que fala sobre sua própria relação com a arte.
Além da semelhança com Leonard Cohen na simplicidade e primazia na poesia e voz, Violets for roses vem sendo relacionada com Nick Cave. O álbum passa por diversos assuntos e menciona marcos temporais como a quarentena e Black Lives Matter. A novidade é que Lana Del Rey fala abertamente sobre não gostar da mãe.
Poeticamente muito bem construído e musicalmente sóbrio e sem excessos, Blue Banisters agrada fãs e crítica especializada.
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