Da Euforia à ‘Segunda Infância’ dos Mestres: O Futuro de Scorsese, Miyazaki e a Visão de Kurosawa
Com a aproximação de “Killers of the Flower Moon”, mais novo filme do lendário diretor Martin Scorsese, a euforia do público se alastra pela internet, e não poderia ser diferente! Em seu novo longa-metragem, o diretor conta com a participação de Leonardo DiCaprio, parceria essa extremamente aclamada devido a filmes como “O lobo de Wall-Street” e “Ilha do Medo” e conta com outros nomes como Robert De Niro para compor seu elenco.
Entretanto, a euforia se mistura com outro amargo sentimento. Em entrevista à revista “Deadline”, ao ser questionado sobre a vontade de realizar futuros projetos, Scorsese revela que, agora, aos 80 anos, “O mundo inteiro se abriu, mas é tarde demais”, e ao ser questionado quanto a essa afirmação, ele cita Akira Kurosawa, que ao receber seu Oscar aos 83 anos, revelou que: “Só agora enxergo as possibilidades do que o cinema poderia ser, e é tarde demais”. Afinal, o que esses grandes nomes do cinema querem dizer com isso, mesmo que possuam impecáveis filmografias?
O próprio Akira Kurosawa, um dos mais influentes diretores de todos os tempos, se não o mais influente, pode nos dar uma pista do que agora passa pela cabeça de Martin Scorcese. O diretor aos 77 anos enviou uma carta para Ingmar Bergman, também diretor de grande renome e destaque. Na carta, Kurosawa parabeniza seu amigo, e pede para que ele mantenha a saúde em dia. Ao decorrer da carta, ele conta a trajetória de um artista japonês do século 19 chamado Tessai Tomioka, que “pintou muitas obras excelentes enquanto ainda era jovem, e quando alcançou os 80 anos, ele de repente começou a pintar quadros que eram muito superiores aos anteriores, como se ele estivesse em um magnifico desabrochar”.
Kurosawa então revela a sua incrível visão quanto a vida humana, onde diz que um humano nasce como bebê, se torna um garoto, atravessa a juventude, o auge da vida, e finalmente volta a ser um bebê antes de partir. Ele acredita que um ser humano se torna capaz de produzir “trabalhos puros” nessa segunda infância. E encerra a mensagem dizendo “estou com 77 anos e estou convicto de que meu verdadeiro trabalho está somente começando”.
Ainda que em tom melancólico, o diretor se demonstra empolgado, uma energia que somente alguém convicto de suas palavras poderia exalar em sua carta. Kurosawa havia realizado previamente o lendário “Ran” (1985) e posteriormente dirigiria um dos seus filmes mais pessoais, “Sonhos” (1990). Ambos se tornaram referências de sua filmografia e do cinema japonês.
Scorsese então estaria passando por essa segunda infância citada por Kurosawa? O que podemos esperar dos seus próximos trabalhos, que esperamos que sejam muitos ainda por vir?
Essa “maioridade” artística pode ser observada em diversos outros diretores de diversos outros segmentos. Um exemplo é o grande diretor de animação Hayao Miyazaki com seu mais recente filme “O garoto e a garça”. O diretor e o próprio estúdio fizeram pouquíssimas peças de divulgação para o novo filme que a pouco tempo era tido como um Adeus do mestre, declarando o fim de sua trajetória artística. O diretor possui, atualmente, 82 anos, e segundo uma declaração do vice-presidente do estúdio de animação, o diretor já retornou ao estúdio com novas ideias, e que seu novo filme não será seu último.
A urgência pelo fazer cinematográfico desses grandes nomes apenas evidência a verdade presente na visão de Kurosawa. Jamais poderíamos entender o sentimento que permeia as ideias que agora invadem a visão desses artistas, somente ao atingir essa segunda infância que, talvez, sejamos dotados dessa sabedoria. E tudo que podemos fazer é aguardar esperançosos e ansiosos pela próxima obra, até que não exista mais a próxima.
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