Mirror No. 3 retrata família tentando se recuperar após a morte de um ente querido
Após o êxito de “Afire” na edição anterior da Mostra, o cineasta alemão Christian Petzold retorna este ano com “Mirror No. 3”, que, assim como seu predecessor, é novamente protagonizado por sua musa Paula Beer. Ambos também compartilham diversos elementos, sobretudo por serem produções de orçamento modesto, com foco nos diálogos e nas dinâmicas interpessoais entre os personagens. Não se trata, portanto, de uma narrativa centrada em eventos marcantes ou em um clímax repleto de revelações, o que se alinha à natureza do tema explorado pelo roteiro: a solidão e o estado contínuo de luto após a perda de alguém querido.

A protagonista Laura — em mais uma atuação notável de Beer, que dispensa exageros para expressar sofrimento, recorrendo apenas a olhares e sutis gestos corporais — sofre um acidente automobilístico à beira de uma estrada deserta e é socorrida pela reclusa Betty (interpretada com igual excelência por Barbara Auer). As duas mulheres estabelecem uma conexão intensa, e Betty, que perdeu a filha por suicídio, passa a nutrir por Laura um sentimento maternal que evolui para uma obsessão, culminando na tentativa de substituição da filha falecida.

A partir desse ponto, Petzold constrói uma dinâmica familiar, especialmente com a inserção do pai e do filho no enredo, embora Laura permaneça alheia ao fato de estar ocupando o lugar da filha ausente. Essa circunstância confere à trama um tom peculiar e acrescenta uma dose de tensão, ainda que “Mirror No. 3” permaneça fiel à sua proposta de ser um filme de intenções, em que o silêncio e os gestos não ditos têm mais peso que as falas e ações. As escolhas estilísticas do diretor reforçam essa abordagem, com uma câmera quase estática, que se posiciona como mera observadora dos acontecimentos.
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Essa estrutura narrativa revela-se eficaz, especialmente pela curta duração do longa (menos de noventa minutos), embora possa não cativar espectadores menos inclinados à introspecção. No ato final, “Mirror No. 3” cumpre com êxito a proposta de transmitir sua mensagem de forma precisa e ainda oferecendo uma poética visual por meio de planos contemplativos e uma montagem ritmada. O filme é enriquecido por interpretações sólidas de seu elenco, que, assim como a obra, optam por evitar qualquer traço de melodrama. Petzold acerta novamente, mesmo que não com o mesmo impacto de seu trabalho anterior, o que é compreensível devido a qualidade acima da média de “Afire”.
Este filme foi visto durante a 49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Vídeo: Divulgação/TIFF Trailers

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