Filme que estreia essa semana, baseado no livro “Holocausto Brasileiro”, de Daniela Arbex, “Ninguém Sai Vivo Daqui” é dirigido por André Ristum e trata da triste realidade nos anos 70, período de diversas internações nos chamados hospitais psiquiátricos e especificamente no estado de Minas Gerais, na cidade de Barbacena.
Claro que logo no começo do filme, percebe-se que a grande maioria não estava nem perto de ter problemas mentais e conforme o filme avança percorrendo a realidade do “hospital”, descobre-se que a maioria dos residentes são pessoas abandonadas ou rejeitadas pela sociedade, desprotegidos sociais em situação de rua, bebês indesejados entregues na porta da instituição, amantes de poderosos e mulheres com gravidez que causavam vergonha as suas famílias… Um verdadeiro horror a que seres humanos eram submetidos especialmente nesse período.
E esse é exatamente o caso da protagonista Elisa (interpretada por Fernanda Marques), que em 1971, está grávida de quatro meses de um namorado que seu pai, um fazendeiro rico não aprova visto que já a comprometeu com outro pretendente, um homem com a mesma idade dele e provido de posses (claro), e na recusa foi enviada com a conivência de sua mãe, à malfadada instituição.
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Durante toda projeção, com exceção de um momento especialmente tocante e de esperança, se passam todos os clichês nesse tipo de filme: desde o(a) peixe fora d’água chegando e sofrendo todos os abusos aos que o(a)s novato(a)s estão sujeito(a)s, o(a) veterano(a) que ensina os caminhos e como lidar com a instituição, o sofrimento do(a)s aliado(a)s, mas com uma grande diferença justamente na ambientação, no Brasil da ditadura militar, onde proliferavam esses centros que foram encerrados em 2001, pela chamada Lei Antimanicomial 10.216/2001, mas até lá, milhares padeceram e pereceram nesses lugares.
Filmado em um preto e branco melancólico, mas muito claro nas imagens e jogo de sombras, tem-se realmente a impressão de um pesadelo, o que combina com a música soturna e nas camadas de drama na trilha sonora.
Pelo filme ter grande parte dele realizado no hospital, bem cenografado e com direção de arte correta, é fácil imergir no clima de desesperança da protagonista, se revoltar e torcer contras os responsáveis pela administração do local.
Nos corredores ao dia, pessoas-fantasmas perambulam com o olhar perdido, à noite o frio, o vazio, com barulhos esparsos que ressonam gemidos, pesadelos e até com um pequeno toque do sobrenatural, dão a exata medida do pior que o ser humano pode fazer ao seu semelhante.
Tem um trabalho muito consistente da grande maioria dos atores e coadjuvantes, com destaque para Rejane Faria, espetacular na sua composição e a que mais emociona no filme, da sempre competente Andréia Horta, do veterano Augusto Madeira que transita com facilidade entre comédias e dramas em que precisa desumanizar seus personagens e da protagonista Fernanda Marques, com momentos muito intensos na entrega do sentimento de indignação, tristeza e desorientação causados pelos “tratamentos” do local, mas que em algumas vezes falta uma certa modulação que não corresponde com algumas cenas.
A direção é segura e faz jus às histórias de horror e desolação nesse hospital em que tem-se a estimativa de que 60.000 mortes ocorreram antes o fechamento definitivo do Hospital Colônia.
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Esse tipo de filme é importantíssimo como denúncia do que a sociedade permite quando lhe é conveniente: calar determinados grupos de pessoas, e cabe a artistas como o diretor André Ristum e escritoras como Daniela Arbex , resgatar nossas memórias mais dolorosas, mesmo sob o risco de ser pesado demais para os olhos enxergarem e suportarem.
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