No Other Choice fala sobre instinto de sobrevivência e crime
O longa “No Other Choice”, do renomado Park Chan-wook, é inspirado no livro “O Corte”, de Donald E. Westlake, anteriormente adaptado, com o mesmo nome, pelo mestre Costa-Gavras em 2005. A história acompanha Man-su (o hilariante Lee Byung-hun), um especialista em fabricação de papel com 25 anos de experiência, que é demitido do dia para a noite. Após inúmeras tentativas frustradas de recolocação profissional e pressionado pela necessidade de manter seu elevado padrão de vida ao lado da esposa Miri (interpretada pela excelente e bela Son Ye-jin) e dos dois filhos, ele toma uma decisão extrema: eliminar seus concorrentes para conquistar uma vaga em uma empresa japonesa do setor.

Quem está familiarizado com a filmografia de Chan-wook sabe que seus trabalhos desafiam convenções estéticas e temáticas. Por isso, os planos de assassinato concebidos por Man-su não seguem uma trajetória linear até sua execução. A trama é permeada por um humor negro em situações desconcertantes, sobretudo porque o protagonista não é um criminoso experiente, mas um homem comum que se vê arrastado para o universo da violência. O primeiro homicídio, em especial, escapa completamente ao controle e provoca risos nervosos na plateia, em razão do confronto físico entre três personagens. A partir desse ponto, Man-su começa a se adaptar à nova realidade, embora tropece em diversas tentativas desastrosas.

Além do tom satírico presente no roteiro, “No Other Choice” encanta visualmente, sobretudo pela câmera “orgânica” de Chan-wook, que desliza pelos ambientes com fluidez, transitando entre espaços e explora uma verticalidade que orienta o espectador na geografia das cenas. Seus enquadramentos são quase sempre inusitados — como um zoom que invade até as amígdalas de um personagem, ou uma câmera acoplada a um balanço, que oscila em perspectiva subjetiva.
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Esse apuro técnico e estético não apenas reforça o tom irônico da obra, como também evidencia o comportamento excêntrico do protagonista. Diferentemente do personagem retratado por Costa-Gavras, Man-su não está mais inserido no capitalismo tradicional, mas sim em um sistema dominado pela inteligência artificial e pela automação quase total das fábricas. Agora, além de enfrentar concorrentes humanos, ele precisa lidar com máquinas — entidades invencíveis pela sua natureza imortal. O que resta de tangível são apenas as árvores abatidas para a produção de papel na empresa japonesa — retratadas em uma cena emblemática — e os corpos dos demais desempregados que, infelizmente, cruzaram seu caminho.
No Other Choice foi exibido durante a 49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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