Quando assistimos ao filme “O Gabinete do Doutor Caligari”, filme alemão expressionista de 1920, é possível perceber que existem muitos elementos que estamos acostumados a ver ao longo de toda a filmografia de Tim Burton. Com isso, pensamos se seria apenas uma impressão nossa ou se realmente o filme havia sido motivo de inspiração para ele. Se pesquisarmos um pouco, perceberemos que não, não é apenas impressão… É realmente expressão. Através da análise de cenas extraídas de seus filmes, é possível ver claramente que as ideias do Expressionismo são abundantes em toda a obra do cineasta. Embora, nesse texto, nosso foco seja a ligação entre o Expressionismo e o cinema de Burton, é possível ver elementos de outros movimentos artísticos, como por exemplo o Surrealismo, presente em muitas cenas de Beetlejuice.
Ao estudar esses movimentos artísticos, somos informados de seu lugar na história da arte, mas os conceitos e elementos visuais próprios de cada um deles vão muito além dessa limitação e isso se deve ao fato de que há muito mais do que a imagem de quando falamos sobre esses movimentos, como é possível ver através dos grupos expressionistas “A Ponte” e “O Cavaleiro Azul” que nos mostram que a preocupação dos artistas ia muito além das linhas distorcidas e dos contrastes. Assim como o movimento expressionista estava mais preocupado em retratar aquilo que estava no interior, se importando menos com o que era aparente, o seu legado também foi muito maior do que apenas as obras visíveis.
As inquietações dos artistas, a sua vontade de ver uma mudança no mundo ou apenas o desejo de tirar de dentro de si esses monstros e dores através da arte, fazem parte de uma herança que vai muito além do visual. Essa herança influenciou pessoas de várias gerações, que continuam trazendo para o público, obras com os mesmos elementos que encontramos no movimento expressionista no início do século XX.
Esses elementos permanecem presentes nos dias de hoje pois, não importa o quanto a sociedade mude, os seres humanos continuarão sendo seres humanos, indivíduos com a necessidade de se expressar, de mostrar ao mundo aquilo que sentem. Tim Burton faz isso. Como podemos ver em toda a sua filmografia, ele tem sua escuridão particular, uma escuridão que por vezes ganha cores bem alegres, como nas cenas em que Jack encontra a Cidade do Natal ou quando Edward Mãos de Tesoura se descobre um excelente escultor e cabeleireiro, levando felicidade aos habitantes da cidade. Da mesma forma, momentos felizes por vezes ficam quase sem cor, como no filme “Noiva Cadáver” e nas suas duas versões de “Frankenweenie”. Mas o que importa é que ele divide esse mundo particular, estranho, cheio de maravilhas e surpresas com seu público, que pode vê-lo se expressar de forma tão poética através de seus filmes e de sua arte.
Para finalizar, indicamos aqui alguns filmes do expressionismo alemão para que vocês possam se inspirar, através de perspectivas distorcidas e jogos intensos de luz que geram um contraste alucinante. Além do já citado “O Gabinete do Dr. Caligari”, temos outros inspirados pela inovação que ele trouxe para a sétima arte e que representam bem o período: “O Golem” (Der Golem, 1920), de Paul Wegener; “Nosferatu – Uma Sinfonia do Horror” (Nosferatu – Eine Symphonie des Grauens, 1922) e “Fantasma” (Phantom, 1922), de Friederich William Murnau; “A Morte Cansada” (Der Müde Tod, 1921) e “Dr. Mabuse – O Jogador” (Dr. Mabuse – Der Spieler, 1922), de Fritz Lang, Genuine (1921) e “Raskólnikow” (1923), de Robert Wiene; “Da Aurora à Meia-Noite” (Von Morgens bis Mitternachts, 1923), de Karl Heinz Martin; “Sombras” (Schatten, 1923), de Arthur Robinson; “Figuras de Cera” (Das Wachsfigurenkabinett, 1924), de Paul Leni.
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